Cilindro de GNV no porta-malas de um veículo
Diferente do GLP (gás liquefeito de petróleo), ele é menos denso que o ar, fazendo com que um vazamento não fique concentrado nas áreas baixas. Ou seja, é mais fácil dispersá-lo.
Em uma ocorrência de combate a incêndio neste tipo de veículo, os procedimentos mudam em relação a veículos sem GNV.
Existem diferentes interpretações na internet, mas me baseei em uma Instrução Normativa do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (fonte), a qual usa como fontes, entre outras:
- Manual para Atendimento a Emergências - ABIQUIM
- Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQ) do GNV.
- Centro de Tecnologia do Gás.
- Corpo de Bombeiros do Estados de São Paulo.
- Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP.
Também usei informações de um site especializado em conversão GNV (fonte).
Procedimentos:
1- Deve-se, como em qualquer incêndio veicular, avaliar e dimensionar a cena e os recursos necessários.
2- Diferente dos incêndios em veículos sem GNV, neste caso as viaturas devem estar a uma distância mínima de 50 metros do(s) veículo(s) envolvido(s), podendo ser maior dependendo da direção do vento e da topografia do local.
3- O isolamento da área deve ser de pelo menos 50 metros em todas as direções. Se houver edificações dentro desse raio, evacuá-las.
4- Os bombeiros combatentes deverão usar EPI e EPR completos, e a aproximação deve ser feita com o vento "pelas costas", e pela parte frontal do veículo.
Nota: em carros, os cilindros costumam ficar no porta-malas ou embaixo dele. Em vans e ônibus, constumam ficar nas laterais, na parte inferior. Em caminhonetes, dentro ou embaixo da caçamba. Por isto deve-se sempre se aproximar pela dianteira.
5- Usar pelo menos duas linhas de ataque, uma com jato tipo "chuveiro", que fará o resfriamento direto do veículo e do tanque, e outra com jato tipo "neblina", que fará a dispersão dos gases e dará cobertura à primeira.
6- Observar a coloração do fogo. Se a chama for azulada, indica vazamento e queima do GNV.
7- Observar a coloração e o estufamento do(s) cilindro(s). Se estiver(em) incandescente(s), há a possibilidade do fenômeno BLEVE (Boiling liquid expanding vapor explosion - em tradução livre: explosão de vapor em expansão de um líquido fervente).
8- O combate deve ser feito por resfriamento do veículo e do(s) cilindro(s), para evitar o BLEVE.
9- Diferente do incêndio em veículo convencional, não se deve aproximar do veículo GNV, combatendo da máxima distância possível e em posição de "alarme gases" (deitado em decúbito ventral, junto ao solo).
Nota: esta posição é recomendação da Instrução Normativa, mas obviamente devemos avaliar a condição da cena. Possíveis proteções como muros, paredes ou outros veículos podem ser usadas.
10- Observar o ruído ("barulho") da válvula de segurança do(s) cilindro(s). Se o ruído aumentar, indica que o resfriamento não está surtindo efeito. O comandante da operação pode ordenar a retirada dos bombeiros e combater somente à distância, com canhão monitor.
Exemplo de válvula do cilindro, com registro manual. À esquerda, a válvula de segurança
11- Para incêndios em veículos de grande porte, se não for possível efetuar o resfriamento dos cilindros, abandonar o local e combater somente com canhão monitor.
12- Resfriar os cilindros com grande quantidade de água até que o fogo seja extinto. Importante dimensionar os recursos necessários, localizar hidrantes próximos, etc.
13- Nunca fechar a válvula na saída de um cilindro enquanto houver chamas, pois sua pressão interna poderá aumentar rapidamente, não sendo suficiente o alívio através da válvula de segurança. Isto ocasionará o BLEVE.
14- No caso de um princípio de incêndio, se possível fechar o registro presente no compartimento do motor, mas não fechar a válvula de saída do cilindro até que as chamas sejam extintas.
15- Evitar jogar água diretamente nos pontos de vazamento ou na válvula de segurança, pois poderá ocasionar congelamento.
16- Se o incêndio ocorrer dentro de um ambiente fechado (uma garagem, por exemplo), ventilar o máximo possível para ajudar a dispersar o GNV, a fumaça e os gases superaquecidos.
17- Extintas as chamas, pode-se conter o vazamento (se ainda houver), fechando as válvulas / registros. Entretanto, deve-se manter o veículo isolado e monitorar qualquer alteração no(s) cilindro(s) ou válvula(s) de seguraça.
18- Não havendo mais chamas ou vazamento, pode-se encerrar a operação.
As imagens abaixo foram retiradas da Instrução Normativa citada anteriormente e demonstram a posição dos dispositivos do sistema GNV:
Agora vamos ao seguinte cenário:
Soa o alarme da sua guarnição. Você se equipa, corre para a viatura e escuta pelo rádio que se trata de um incêndio em veículo, sem mais informações.
Chegando ao local, como saber se o veículo é convencional ou não? Só por não haver cilindro visível, não é certeza que não é GNV (pode estar no porta-malas).
Diante da grande quantidade de veículos GNV rodando nas cidades, o correto é considerar que todo veículo pode ser desse tipo e seguir os procedimentos acima até ter certeza.
Comprovando que é GNV, prossiga conforme as instruções. Se não for, ou se sua equipe já tiver a informação de antemão, proceda como veículo convencional. Pode se aproximar e combater de forma regular (mesmo que seja híbrido ou elétrico!) (link).
Dica: chegado ao local, procure identificar o condutor. Ele provavelmente saberá lhe dizer.
Abaixo algumas fotos do estrago que uma explosão de cilindro de GNV pode ocasionar:
Fique alerta!
Que absurdo!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho...
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