sexta-feira, 31 de março de 2017

Uso de drones em ocorrências

Com a popularização dos drones, novas aplicações foram surgindo. De uns anos para cá, corporações de bombeiros pelo mundo começaram a usá-los para auxiliar em combates a incêndios.

Os drones são usados para:
  • Obter uma visão sistêmica da ocorrência.
  • Antever riscos.
  • Orientar as decisões do comando.

Também estão sendo usados em outros tipos de ocorrência, como acidentes com produtos perigosos e acidentes veiculares com múltiplos veiculos, com os mesmos objetivos acima.

Veja nos vídeos abaixo dois incêndios nos EUA em que foram usados drones pelo comando da operação para orientar o combate:




Recentemente, novas tecnologias vêm sendo incorporadas, tais quais visão noturna e imagem térmica, que auxiliam na identificação de fontes de calor dentro das edificações, bem como na procura por vítimas.

Veja no vídeo abaixo um exemplo:


Até semana que vem!

quarta-feira, 29 de março de 2017

Procedimentos para primeira guarnição no incêndio

Existem diversas abordagens para ocorrências de incêndio, como por exemplo o método SLICE-RS, já apresentado neste blog.

Entretanto, os métodos não detalham os procedimentos a serem adotados pela primeira guarnição que chega à cena.


É muito comum que o primeiro caminhão de combate a incêndio conte somente com um motorista e dois bombeiros, às vezes até um bombeiro. E os recursos - como materiais e água - costumam ser limitados.

Portanto, as ações tomadas por esta equipe influenciam muito a evolução da ocorrência.

Nota 1: este post é uma sugestão de procedimentos, baseado nos métodos já conhecidos, juntamente com experiência própria.

Nota 2: para efeitos didáticos, neste post estou abordando somente as edificações residenciais e comerciais (casas, sobrados, prédios, etc).

Considerações iniciais:

Uma dificuldade inicial da primeira equipe na cena é controlar a população curiosa, ou mesmo pessoas tentando apagar o incêndio.

Por experência própria - e contrariando algumas metodologias - recomendo não perder tempo tentando isolar a área. Sua equipe precisa definir prioridades e, neste momento, há outras mais importantes.

Existem basicamente dois cenários em um incêndio em edificação: com ou sem vítimas presas.

Chegando à cena, procure pelos proprietários ou vizinhos para assegurar que não há vítimas presas à edificação. Só se deve realizar uma busca primária se houver confirmação ou indícios de que há vítimas.

Procure desligar a energia elétrica rapidamente. Se houver ligação irregular ("gato"), só corte as fiações com uso de luvas de alta tensão.

Um ponto crucial é iniciar o combate o quanto antes, mesmo que seja apenas para proteger o que ainda não queimou. O fato de jogar água no incêndio tranquiliza a população e faz com que dêem o devido espaço para sua equipe trabalhar.

Controle o gasto de água para que não falte até a chegada de apoio. Se for possível atacar diretamente o foco do incêndio e extingui-lo, faça-o.

Se o incêndio já tiver grandes proporções, proteja o que não queimou, bem como reduza a temperatura dos gases internos.

Para tanto, não use jatos contínuos, que consumirão muita água. O objetivo aqui não é apagar o incêndio, mas sim tentar evitar que se alastre.

Cenário 1: sem vítimas presas na edificação:

Se não houver vítimas presas, a prioridade da equipe é proteger as áreas que ainda não queimaram - sejam na própria edificação ou em edificações vizinhas.

Como a equipe geralmente trabalha com um ou dois bombeiros, não se recomenda fazer o combate interno até que uma segunda guarnição chegue à cena.

Antes de iniciar o combate, recomenda-se que um bombeiro faça uma avaliação 360o (se possível) na edificação, procurando por eventuais riscos, fluxos de gases, entrada e saída de ar/fumaça, foco do incêndio, possíveis acessos, fiação elétrica e edificações próximas.

Conforme já mencionado, se for possível atacar diretamente o foco do incêndio e extingui-lo, prossiga. Se o incêndio já tiver grandes proporções, concentre-se em proteger o que ainda não queimou. O que está queimando já está condenado.

Atentar também para a possibilidade de flashover e backdraft ao se realizar aberturas de portas e janelas. Aplique água o quanto antes para reduzir a temperatura dos gases internos e evitar estes fenômenos.

Com a chegada de apoio, o motorista da primeira guarnição deve reportar a situação ao chefe da equipe, para que este possa definir os próximos passos.

Cenário 2: com vítimas presas na edificação:

Se houver vítimas presas na edificação, a prioridade é retirá-las de lá. Para tanto, a equipe mínima necessária é de um motorista e dois bombeiros.

Procure por moradores ou vizinhos para coletar indícios de onde poderiam estar as vítimas, de forma a otimizar sua busca. Lembre-se que há lugares mais propícios para se encontrar vítimas, tais quais banheiros, armários, embaixo de camas e de escadas.

Recomenda-se adentrar a edificação munido de uma linha de ataque pressurizada, de forma a resfriar o ambiente (reduzindo o risco de flashover e backdraft), abrir passagem para chegar às vitimas e ter um guia para escape, caso a situação se deteriore.

Note que o objetivo nesta etapa não é proteger o que não queimou nem apagar as chamas, mas sim fazer uma busca primária para encontrar as vítimas e extraí-las o mais rápido possível.

Realizada a busca primária, encontrando e extraindo as vítimas, deve-se prosseguir como no caso anterior.

Nota: se a equipe efetou a busca primária - que deve durar poucos minutos - e não encontrou nenhuma vítima em nenhum ambiente, deve-se proceder com o combate e, ao final, executar a busca secundária.

Neste caso, com a chegada de apoio e do chefe da equipe, o motorista deve reportar imediatamente a presença de dois bombeiros no interior da edificação, para que o mesmo possa tomar as devidas providências para assegurar sua segurança.

O chefe da equipe pode optar por enviar mais bombeiros - sempre em duplas - para auxiliar e acelerar as buscas. Tudo dependerá dos recursos - pessoas e materiais - disponíveis.

Até a próxima!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Emergências em caldeiras

Acidentes com caldeiras são mais frequentes do que imaginamos e costumam ser catastróficos.

Portanto, é importante que os bombeiros saibam o que são caldeiras e como proceder em caso de emergência.


Se uma explosão já ocorreu, o trabalho dos bombeiros será mais voltado para o resgate de vítimas, extinção de chamas e rescaldo. Há grande probabilidade de estruturas colapsadas.


Já no caso de perda de controle das condições normais de operação da caldeira, havendo possibilidade de explosão e com ou sem chamas, a situação para os bombeiros é mais perigosa, pois se não controlada a tempo, inevitavelmente a situação evoluirá para uma explosão.


O que são caldeiras?


São grandes equipamentos utilizados principalmente nas indústrias, com o objetivo de gerar vapor de água em alta pressão.



Através da queima de combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos, o calor é transferido para a água, que evapora e é conduzida por tubulações para os mais diversos processos.

Costuma-se dizer que uma caldeira é como uma panela de pressão em tamanho maior.



O vapor é usado em diversos processos industriais, com altíssimas pressões e temperaturas.

As caldeiras geralmente são instaladas em locais afastados, chamados "casa de caldeiras".


Necessitam de operação por pessoa especializada e treinada (operador de caldeira ou caldeireiro), com formação de acordo com a NR13.


Utilizam combustíveis diversos como:

  • Óleo BPF.
  • Diesel.
  • Gás natural.
  • Madeira, serragem.
  • Eletricidade.

Podem ser de porte:


Pequeno: encontradas em hospitais e hotéis:



Médio: encontradas em empresas:


Grande: encontradas em empresas:


Uma caldeira não pode ficar sem água. A prevenção dos acidentes (explosões) se dá pela manutenção da circulação constante de água.

Caldeiras possuem dispositivos de alívio de pressão interna que devem ser frequentemente testados, de modo a garantir o seu pleno funcionamento. Sua falha, em casos de aumento de pressão, pode levar à explosão da caldeira.

Nota: podem ocorrer acionamentos de válvulas de alívio de pressão interna. Isto não é visto como um acidente, mas pode indicar eventuais problemas.

A explosão de uma caldeira pode gerar:

  • Grande expansão de gases, colapso e destruição de estruturas (quedas de tetos e paredes).
  • Queimaduras em pessoas próximas (alta temperatura da água).
  • Incêndios no local ou em tanques próximos.
  • Ferimentos diversos em vítimas próximas.

No atendimento a emergências em caldeiras:


  • Especialistas (caldeireiros e pessoal de manutenção) devem estar presentes nas operações para orientar procedimentos mais adequados - é um equipamento muito complexo e requer orientação de como proceder.
  • Coloque-se como auxiliar, e não como o “dono” do processo.
  • A alimentação de combustível da caldeira deve ser interrompida.
  • Evacue a área o mais rápido possível, com grandes raios.
  • A menos que orientado pelos especialistas, as bombas de circulação de água para refrigeração devem permanecer ligadas.
  • Não jogue água diretamente na caldeira (jato sólido), pois poderá causar choque térmico e ruptura das paredes da mesma.
  • Nunca jogue água na parte interna da caldeira.
  • Não faça abertura da caldeira.
  • Resfrie com jato em neblina o calor irradiado e os gases da combustão.
  • Se houver vazamento de combustível com chamas, combata o fogo.
  • Procure ventilar o local.
  • Não realize abertura e/ou fechamento de válvulas (somente se orientado pelo pessoal especializado).

Nota: a interrupção do processo de aquecimento e de aumento de pressão - e consequente redução do risco de explosão - dá-se fazendo com que ocorra a diminuição da temperatura e pressão internas, através da circulação constante de água e paralisação dos processos de queima.

Atenção: o desligamento de energia elétrica é procedimento de segurança para operações, mas em alguns casos pode fazer parar as bombas de circulação de água para refrigeração e, com isso, a temperatura e pressão internas podem aumentar, gerando perigos adicionais.


Lembre-se: siga as orientações dos especialistas e só encerre a ocorrência quando houver certeza de que a situação está controlada e não há mais risco de fogo e/ou explosão.


Para finalizar, veja abaixo fotos do que uma explosão de caldeira pode ocasionar:




Abaixo, um vídeo da explosão de uma caldeira:


Fontes:
Treinamento sobre Caldeiras e Fundições do CBVJ (por Luciano Mendonça Seiler).
Blog Seguros e Sinistros (link).
Vídeos disponíveis no Youtube.

Saudações!

sexta-feira, 24 de março de 2017

Vazamento de GLP em apartamentos

Existem diversas instruções sobre vazamentos de GLP (gás liquefeito de petróleo), mas poucas abordam uma situação bem específica e que consiste em alto risco para os bombeiros:

O vazamento de GLP dentro de um apartamento fechado.

Para este post, tive de recorrer a uma mescla de fontes externas (citadas ao final) com experiência e conhecimento próprios.

Imagine o seguinte cenário:

Você e sua equipe são acionados para um vazamento de GLP em um apartamento.

Chegando ao local, o síndico / porteiro / zelador indica qual o andar e a unidade. Mas informa que os moradores estão em viagem e o apartamento encontra-se fechado.

Vocês fecham o registro geral do gás, baixam os elevadores e desligam a eletricidade.


Chegando ao andar - propriamente equipados com EPI, EPR, ferramentas, mangueira e esguicho - vocês sentem o forte "cheiro" do gás já no corredor.

Nota: o "cheiro" não é do gás, mas da substância mercaptano que é adicionada para gerar o odor.

Por precaução, solicitam a evacuação dos apartamentos no mesmo andar e andares imediatamente acima e abaixo.

Fecham também o registro no corredor, mas sabem que precisam ventilar o local o mais rápido possível, pois o GLP é mais denso que o ar e ficará enclausurado no apartamento.

O que e como fazer?

1- Equipamentos:

Um primeiro ponto de atenção é o seu próprio equipamento. Não se deve adentrar locais com alta concentração de GLP portando metais, rádio-comunicadores e lanternas que não sejam intrínsecas (para ambientes explosivos).

Retire tudo que não for essencial e deixe na escada enclausurada. Recomenda-se inclusive retirar as botas - fique de meias - para evitar qualquer atrito com objetos que possam gerar faíscas.

Deixe canivetes, alicates, mosquetões e outros objetos de metal.

Mas use seu EPR (com cilindro de composite, não de aço!) para evitar asfixia e/ou intoxicação.

2- Linha de ataque:

Prepare uma linha de ataque usando o hidrante no corredor e a mangueira e o esguicho que vocês trouxeram. Ela é a sua segurança em caso de explosão.

Nota: o caminhão de combate a incêndio deve estar conectado ao hidrante de recalque do prédio e pressurizar a rede.

3- Entrada forçada:

Você poderá precisar arrombar a porta. O procedimento é o mesmo de entradas forçadas com alacanva Halligan.

Importante: procure posicionar a Halligan entre a porta e o caixilho - de madeira - de modo a não gerar atrito com partes metálicas. E faça movimentos suaves.

Nota: um pouco de atrito entre a fechadura metálica na porta e no caixilho é inevitável.

4- Ventilação:

Realizada a abertura da porta, um bombeiro deve ficar posicionado do lado de fora, no corredor, com a linha pressurizada e pronta para uso.

Outro deve entrar no apartamento somente com seu EPI básico, EPR e lanterna intrínseca, e abrir o máximo de portas e janelas que conseguir.

Cuidado com janelas metálicas! Abra devagar.

Na sequência, sugere-se posicionar um ventilador de pressão positiva na saída da escada enclausurada, de forma a "empurrar" o ar da escada - livre de GLP - para o corredor e para o apartamento, enfraquencendo a mistura GLP-Ar e "expulsando" o GLP pelas janelas.

Proceda até que o "cheiro" de GLP tenha reduzido drasticamente.

Feito isto, pode-se encerrar a operação e religar a eletricidade.

Atenção: peça ao síndico / porteiro / zelador para manter o registro geral fechado até que uma empresa ou técnico especializado possa avaliar e fazer o reparo.

Considerações finais:

Os manuais sugerem o uso de água, CO2 ou PQS (pó quimico seco) para saturar o ambiente em caso de alta concentração de GLP. A meu ver, esta é uma última opção.

Os limites inferior e superior de inflamabilidade do GLP são 1,8% e 9,5%, respectivamente. Isto significa que uma pequena quantidade de gás (1,8%) misturada ao ar já é suficiente para gerar uma explosão, caso haja uma fonte de ignição.



Por outro lado, quantidades grandes de gás (acima de 9,5%) tornarão a mistura GLP-Ar muito rica e não haverá possibilidade de combustão.

Portanto, uma alta concentração de GLP acaba sendo menos prejudicial que uma baixa, reduzindo o risco de explosão ao ter que arrombar uma porta e abrir janelas para ventilar o ambiente.

Por fim, muitos bombeiros efetuam a entrada forçada e a ventilação do ambiente sem o apoio de uma linha de ataque pressurizada. Isto é um erro! Em caso de fogo / explosão, você precisará da linha para combater as chamas e retirar o bombeiro que estava dentro do ambiente.

Lembre-se: devemos sempre "pecar" por excesso, nunca por falta.

Fontes:

FISPQ Liquigas
Bombeiros Emergência - GLP
Limites de inflamabilidade

Saudações!

quarta-feira, 22 de março de 2017

Busca primária e secundária

Em caso de indício ou confirmação de vítima presa em uma edificação, os bombeiros terão de realizar uma busca.

Existem dois tipos de busca: primária e secundária.

Busca primária:

Consiste numa busca rápida realizada antes ou durante as operações de combate a incêndio.

É feita geralmente por uma dupla de bombeiros experientes, com uso de tato, ferramentas manuais como chave Halligan e machado de arrombamento (de forma a aumentar o alcance) e, se disponível, câmera térmica.


O objetivo dessa busca é varrer o mais rápido possível a maior área em uma edificação e, se for encontrada uma vítima, retirá-la rapidamente do local (seja via arrasto ou por escada externa).

Se for um incêndio em edifício (prédio), deve-se começar pelo apartamento onde está o foco do incêndio e prosseguir para os demais apartamentos no mesmo andar.

Se as chamas já se espalharam por vários andares, repetir o procedimento nestes.

Os lugares mais comuns onde vítimas se abrigam são: banheiros, armários, debaixo de camas e debaixo de escadas. O uso de ferramentas ajuda a alcançar pontos de difícil acesso.

A atividade geralmente é feita com visibilidade prejudicada ou nula, o que a torna mais perigosa. Ela só deve ser realizada caso haja indício ou confirmação de vítima presa na edificação.

Outro ponto importante para os bombeiros é atentar para possíveis mudanças no plano neutro e no fluxo de gases (bidirecional para unidirecional), buscando abrigo (um quarto com uma porta fechada já ajuda) caso necessário.

A busca primária pode ser realizada antes ou durante o combate. Se realizada antes, cuidado, pois a falta de uma mangueira como guia pode fazer os bombeiros perderem o referencial de entrada/saída.

Dica 1: escolha um lado para começar as buscas e mantenha uma das mãos sempre em contato com as paredes desse lado. Exemplo: sou destro e opto por começar as buscas pela esquerda, em sentido horário, de forma que minha mão direita esteja sempre livre para varrer o ambiente.

Dica 2: use um cabo (de 50m por exemplo) como guia, amarrando-o ao EPR do primeiro bombeiro. O segundo bombeiro prende um mosquetão ao seu EPR e passa o cabo por dentro do mesmo, mantendo-o livre para correr pelo cabo, de forma a tê-lo como guia, mas não se limitando a ele.

Dica 3: quando entrar em um ambiente, pode-se deixar uma lanterna ligada no chão, próximo à porta, de forma a ter uma referência visual da saída. Mesmo com visibilidade nula, o brilho da lanterna será notado.

É importante que os dois bombeiros mantenham contato físico e/ou verbal o tempo todo.

Se a busca for realizada durante o combate, a própria linha de ataque serve como guia em caso de evacuação de emergência. Mas, nesse caso, deve-se progredir rapidamente na edificação e realizar a busca em paralelo.

Exemplo: o bombeiro no esguicho avança com a linha de ataque nos ambientes, resfriando os gases superaquecidos, enquanto o auxilar realiza as buscas.

O foco aqui não é apagar as chamas, mas realizar a busca.

Dica 4: use a menor quantidade de água possível para evitar que muito vapor seja gerado, prejudicando a visibilidade. Pulsos de jato em neblina são a melhor opção.

Finalizada a busca primária, pode-se prosseguir com o combate.

Veja abaixo alguns vídeos com exemplos de busca primária. O primeiro é um treinamento:



Agora veja na prática como funciona:



E em uma situação com vítimas presas na edificação:



Busca secundária:

Consiste em uma busca minuciosa e mais lenta, em todos os ambientes, realizada:
  • Quando a extinção e ventilação estão finalizadas.
  • Quando o incêndio está sob controle.
  • Durante operações de rescaldo.

O objetivo é garantir que ninguém seja esquecido (com ou sem vida).

Preferencialmente, deve ser realizada por bombeiros que não participaram da busca primária, devido à exaustão dessa atividade.

Mesmo em um incêndio sem indício ou confirmação de vítimas presas, quando se opta por não realizar uma busca primária e ir direto ao combate, a busca secundária é obrigatória.

Dica: aproveite essa etapa para entender e aprender com a situação. Como o incêndio começou? Como ele evoluiu? Como a abertura de portas/janelas e a ventilação influenciaram? Usamos mais água do que o necessário? Havia vítimas, e onde estavam? Quais as dificuldades encontradas nas buscas?

Para finalizar, a busca primária é uma atividade de alto risco para os bombeiros, e a segunda maior causa de morte de bombeiros nos EUA (dados NFPA), seja por colapso de estruturas, seja por rápida progressão das chamas.

Portanto, treinamento é fundamental. Apenas bombeiros treinados devem executar buscas primárias. 

Até o próximo post!

segunda-feira, 20 de março de 2017

História dos bombeiros

Acredita-se que a história dos bombeiros tenha se iniciado no antigo Egito, por volta do século 3 antes de Cristo (fonte).

Porém, foi em Roma que se tem notícia do primeiro grupo organizado de combate a incêndio, no século 2 AC.

Curiosamente, a história conta que este primeiro grupo era, na verdade, uma espécie de organização que lucrava para apagar os incêndios.

Funcionava assim: ao primeiro sinal de fogo, um grupamento era enviado até o local, porém não fazia nada até que seu chefe chegasse a um "acordo comercial" com o dono da propriedade.

Se o preço não fosse satisfatório, eles simplesmente deixavam a propriedade queimar. Se fosse, apagavam o fogo.

Foi só no ano 60 DC que o imperador Nero criou um serviço oficial de combate a incêndio, chamado de vigília. Esse grupamento usava baldes, varas e ganchos para conter os incêndios.

Dezenas de homens se alinhavam do local do incêndio até a fonte de água mais próxima e passavam baldes de mão em mão, criando um fluxo de água.

Tanto na Europa como nos EUA, a maior evolução dos corpos de bombeiros iniciou por volta do século 17.

Alguns dados históricos:

As primeiras bombas manuais surgiram na Alemanha em 1518, mas tinham alcance limitado, pois não havia mangueiras.


Por volta de 1657, um inventor alemão chamado Hans Hautsch melhorou as bombas para fazer ao mesmo tempo sucção e pressão, e adicionou mangueiras flexíveis para aumentar o alcance.

Em 1672, um inventor holandês chamado Jan Van der Heyden desenvolveu a primeira mangueira de combate a incêndio, feita de couro, com 15m de comprimento e acoplamentos metálicos nas pontas para emender uma na outra.


A primeira bomba manual de grande porte data de 1690, criada por outro holandês naturalizado na Inglaterra, chamado John Lofting. Era operada por um time de bombeiros (quantidade não definida).

Em 1721, um inglês chamado Richard Newsham melhorou as bombas manuais, permitindo operação por times de 4 a 12 homens, com vazão de até 12 litros/seg e alcance vertical de até 36m.

Nos EUA, a primeira brigada de combate a incêndio surgiu em 1678.

A primeira bomba de combate a incêndio motorizada (a vapor) surgiu em 1841 nos EUA. A bomba era motorizada, mas o carro ainda era puxado por cavalos.

O primeiro caminhão de combate a incêndio com motor a combustão surgiu em 1905 na Inglaterra.

Bombeiros no Brasil:

Em 1797 o arsenal da marinha do Rio de Janeiro passou a ser responsável pela extinção de incêndios na cidade. Foi o primeiro grupamento de combate a incêndios do Brasil.

Em 1856, surgiu o primeiro serviço público oficial de combate a incêndio, criado pelo Imperador D. Pedro II, também na cidade do Rio.

Em 1880, criou-se oficialmente o corpo de bombeiros militar do estado de São Paulo.

Em 1892, baseado no modelo alemão de voluntariado, surgiu em Joinville / SC a primeira corporação de bombeiros voluntários do país (e da América Latina).

Abaixo, veja alguns vídeos de como era a atividade bombeiril antigamente:








Saudações!

quinta-feira, 16 de março de 2017

Entradas forçadas: portas convencionais

No primeiro post do blog, quando escrevi sobre a Halligan, ao final mencionei os vídeos do Mike Perrone, bombeiro do FDNY, nos quais ele demonstra técnicas de entradas forçadas com a ferramenta.

Neste post, em complemento aos posts sobre portas de rolo e portas pantográficas, falarei sobre técnicas usadas em portas convencionais.

Quando menciono "convencionais", refiro-me às portas de abertura para dentro, para fora ou de correr, sejam de madeira ou de metal.

Antes, vale lembrar que não devemos arrombar portas com chutes ou com os ombros, sob o risco de:

1- Lesão: nem sempre conhecemos o tipo da porta, quantidade e força das fechaduras.

2- Flashover ou backdraft: podemos não saber a condição do ambiente interno. Uma entrada súbita de ar pode ocasionar tais fenômenos.

Relembrando as partes da Halligan:


O objetivo é sempre posicionar a cunha ou o garfo entre o caixilho e a porta. O uso de cada parte da ferramenta dependerá do tipo de porta (madeira, metal), do tipo de abertura (para dentro, para fora, de correr) e se você dispõe ou não de um auxiliar com machado de arrombamento.

Outro ponto importante é dominar as técnicas de entradas forçadas. Como você verá nos vídeos abaixo, o arrombamento gasta energia. Não saber o que fazer fará você se cansar antes mesmo de iniciar o combate e/ou a busca primária.

Este primeiro vídeo apresenta as técnicas para portas com abertura para dentro. Repare na importância de se levar calços, principalmente quando você não dispõe de um auxiliar com machado.



O segundo vídeo demonstra as técnicas com auxílio de machado, que é a situação mais comum. São bastante úteis em portas de metal, nas quais a resistência da porta e das fechaduras é bem maior.



O terceiro vídeo traz as técnicas de arrombamento para portas com abertura para fora, muito comuns em edificações comerciais e industriais. Prédios residenciais mais modernos também têm recebido portas deste tipo em áreas comuns.

Neste caso, é fundamental um auxiliar com machado.



Algumas dicas importantes:

1- Não sabe se a porta abre para dentro ou para fora? Repare nas dobradiças. Se estão do seu lado, a porta abre para fora (se já estiver dentro de um ambiente, a porta abre para o seu lado).

2- Antes de iniciar a entrada forçada, bata com a Halligan no alto, no meio e embaixo da porta. Isto ajudará a idenficar onde estão as fechaduras. 

3- Como você pode não saber a condição do ambiente no outro lado, assim que efetuar a abertura, puxe a porta com a cunha da Halligan ou use um cabo solteiro ou fita tubular preso ao trinco para controlar a abertura.

O vídeo abaixo demonstra as dicas 2 e 3:



4- Se a porta for de correr, posicione a cunha ou o garfo da Halligan no espaço entre a porta e o caixilho, e bata na parte oposta da ferramenta com um machado ou marreta, de forma a passar a cunha ou o garfo entre os mesmos.

Na sequência, movimente a Halligan verticalmente para cima e/ou para baixo para estourar a fechadura.

Se você tiver interesse em se aprofundar no assunto, sugiro assistar à sequência de nove vídeos do Mike Perrone, disponíveis nesse link. Há outras situações mais complexas. Infelizmente, somente em inglês.

Saudações!

quarta-feira, 15 de março de 2017

Entradas forçadas: portas pantográficas

Dando continuidade ao tema entradas forçadas, hoje falarei das portas pantográficas:


Estas portas já foram muito comuns, porém devido à sua maior fragilidade em relação às portas de rolo, vêm sendo substituídas.

Elas podem possuir fechadura central,


lateral,


ou ainda serem fechadas por corrente e cadeado.

Sua abertura / arrombamento é relativamente simples. Pode ser feita com a Halligan e machado ou marreta de arrombamento, com serra policorte ou com alicate de arrombamento (se for fechada com corrente e cadeado).

Veja as marcações na figura abaixo. O círculo vermelho indica o local onde aplicar a Halligan, se esta for a opção. A técnica é a mesma usada para arrombar portas (mais sobre isto no próximo post. Aguarde!)

As retas vermelhas indicam onde cortar com a serra policorte. Esta técnica geralmente é mais rápida de executar.


Feito o arrombamento ou corte, basta empurrar cada uma das seções para o lado.

Até a próxima!