terça-feira, 31 de outubro de 2017

Estudo de caso: incêndio em Vancouver, Canadá

O vídeo abaixo apresenta uma ocorrência de incêndio em Vancouver, no Canadá, em 16/10/2017.


Analisando a cena, conseguimos perceber diversos tipos de procedimentos, alguns realizados corretamente, outros que poderiam ser melhorados e, por fim, algo que chama a atenção por não ter sido realizado.

Antes, uma curiosidade: repare na quantidade de água que é utilizada na operação. Não é comum vermos isto neste tipo de ocorrência no Brasil.


O que foi feito corretamente:

Os bombeiros resfriaram e protegeram as edificações vizinhas (primeiro proteger o que ainda não queimou).

Iniciaram primeiramente o combate externo (resfriamento dos gases superaquecidos dentro da edificação, mitigando risco de fenômenos do fogo como flashover e backdraft).

Fizeram uso de LGE (líquido gerador de espuma), que na maioria dos casos é mais eficiente que água no combate.

Em um segundo momento, utilizaram uma auto-escada com esguicho para realizar o combate por cima (por resfriamento e abafamento).


O que poderia ter sido feito diferente:

Logo após iniciar o combate externo, poderiam ter feito uma abertura controlada na porta frontal e entrado com uma ou mais linhas para realizar o combate interno, procurando atacar o foco do incêndio.

Lembre-se: atacar o foco ajuda a extinguir o fogo muito mais rápido, mas deve ser realizado com cuidado, apenas adentrando a edificação se não houver risco (ou o risco for muito baixo) de colapso estrutural.

Outra medida possível é o uso de ventilação forçada, auxiliando a reduzir a temperatura interna e, consequentemente, a apagar o incêndio mais rapidamente.

Além disso, estamos supondo que não havia vítimas presas na edificação, uma vez que não se percebeu nenhum procedimento de busca primária.


O que foi feito errado:

Notem que durante todo incêndio as luzes nos postes e nas edificações vizinhas permanecem acesas! Isto é muito perigoso para os bombeiros e populares em volta da ocorrência.

Inclusive, muitas vezes a água colide com a fiação!

Além disso, não é recomendado o uso de auto-escadas ou auto-plataformas com esguichos por cima de fiações energizadas.

Dica: em um incêndio desse tipo, ao chegar à cena, primeiro procure desligar a energia elétrica da(s) edificação(ões) em chamas e, na sequência, comunique sua central de emergências para acionar o serviço de eletricidade da cidade para cortar a energia na região.

Saudações!

domingo, 8 de outubro de 2017

Importância de iniciar o combate o mais cedo possível

Encontrei um vídeo no Youtube (um pouco antigo, de 2013) que ilustra bem a importância de iniciarmos o combate o quanto antes.

Note que, por conta da demora em iniciá-lo, o fogo acabou se alastrando. Também (aparentemente) não fizeram a proteção da edificação ao lado, que ainda não estava em chamas.


Em março fiz um post no blog intitulado Procedimentos para primeira guarnição no incêndio. Confira aqui as dicas para este tipo de ocorrência.

Lembre-se: o objetivo do combate inicial não é apagar o fogo, mas sim tentar evitar que se alastre, proteger o que ainda não queimou e reduzir a temperatura dos gases internos para permitir que as guarnições adentrem a edificação, ataquem o foco do incêndio e realizem as buscas.

Até a próxima!

domingo, 3 de setembro de 2017

Bronto Skylift dos Bombeiros Voluntários de Joinville

No post anterior escrevi sobre o passado, apresentando a Magirus Deutz do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville.

Hoje, escrevo sobre o presente, apresentando nossa UPE 54 (Unidade Auto-plataforma-escada):




Esta viatura foi adquirida no final de 2010 da empresa Bronto Skylift (Finlândia), possui alcance de 54 metros de altura (cerca de 18 andares) e é umas das auto-escada-plataformas mais modernas do Brasil.

Além da escada, possui cesto com esguicho automático (que pode inclusive ser operado do solo) e sistema de ar para EPR (equipamento de proteção respiratória).




O equipamento trabalha com sistemas redundantes e diversos sensores espalhados por todo o veículo, conferindo grande confiabilidade. O sistema não permite fazer nenhum movimento que possa colocar em risco os ocupantes e o próprio veículo.





Desde sua aquisição, já participou de dezenas de ocorrências e treinamentos, desde resgates em altura até grandes incêndios em edificações, comércios e indústrias.

Para se ter uma ideia, em sua capacidade máxima, o sistema de bombeamento consome uma carreta de água (cerca de 30 mil litros) em menos de 10 minutos!

Por sua capacidade operacional e flexibilidade, é considerada um veículo essencial para nossas operações. Sem sombra de dúvidas, foi um divisor de águas na corporação.

Até o próximo post!

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Magirus Deutz dos Bombeiros Voluntários de Joinville

Temos na corporação de Bombeiros Voluntários de Joinville uma verdadeira relíquia: um exemplar funcional da auto-escada Magirus Deutz, de 1957.




Antes de mais nada, um pouco de história:

A Deutz AG foi fundada em 1864 por Nikolaus Otto, nada mais nada menos que o inventor do motor à combustão interna de quatro tempos - também conhecido como motor de ciclo Otto.

Inicialmente só produzia motores, mas em meados de 1870 passou a produzir também veículos (caminhões, ônibus e máquinas agrícolas).

Para se ter uma ideia da importância desta empresa, entre as pessoas que trabalharam para a Deutz, alguns nomes são bem conhecidos, tais quais Gottlieb Daimler, Wilhelm Mayback, Robert Bosch e Ettore Bugatti - todos posteriormente fundadores das empresas grifadas em negrito.

Já no final da década de 1910, a empresa começou a fornecer motores à Magirus GmBH, a qual passou a ser conhecida também como Magirus Deutz, unindo a tradição das escadas Magirus com a robustez dos motores Deutz, reconhecidos mundialmente na época por trabalharem nas mais difíceis situações.

Apesar da idade, o caminhão ainda funciona! A escada está com algum desgaste, porém ainda pode ser arvorada parcialmente. Atualmente, com a aquisição de uma auto-escada-plataforma mais moderna, esta Magirus passou a fazer parte da saudosa história dos Bombeiros Voluntários de Joinville.







Saudações!

Fontes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Magirus
https://en.wikipedia.org/wiki/Deutz_AG

domingo, 30 de julho de 2017

Incêndio em carreta de refrigeradores

Há umas duas semanas participei de uma ocorrência de combate a incêndio em uma carreta carregada de refrigeradores:





Chegando ao local, uma primeira guarnição já havia chegado e combatido o incêndio, cabendo a nós apenas auxiliar no rescaldo e na remoção da carga.

A ocorrência em si não teve grandes proporções e dificuldades, porém o mais intrigante foi entender como o fogo começou.

Esta carreta estava dentro de uma transportadora. Segundo relatos dos funcionários, ela estava parada no pátio, desconectada do cavalo mecânico e de qualquer fonte de energia elétrica. No momento também não havia chuva e raios.

De repente, eles começaram a avistar fumaça saindo da carreta e, num ato de muita coragem, um dos funcionários que manobrava um cavalo mecânico conectou-o na carreta e a levou para fora da transportadora, evitando que o fogo se espalhasse para os demais caminhões ao redor.

Extinto o fogo, procuramos por indícios de como o incêndio poderia ter começado. Não havia qualquer sinal de derretimento ou avaria na parte elétrica, nos pneus, freios ou qualquer outra parte externa da carreta. De fato, a história de que ela não estava conectada a nada parecia fazer sentido.

Então começamos a cogitar vazamento de gás de algum refrigerador, pois alguns gases usados no sistema de refrigeração podem ser inflamáveis.

A pergunta seguinte foi: o que gerou uma faísca para que o fogo se iniciasse?

A hipótese mais plausível foi a de energia estática, pois os refrigeradores são envoltos com isopor e plástico e, no transporte, a fricção entre as embalagens pode acumular energia.

Mesmo assim, como poderia ter gerado uma faísca se o caminhão estava parado?

Ao final, saímos da ocorrência com dúvidas e hipóteses, mas com o dever cumprido.

Neste tipo de ocorrência, a chance de tomar grandes proporções é alta, pois as carretas ficam muito próximas umas das outras.

O agente extintor a ser usado dependerá da carga no interior da carreta. Neste caso, usamos água para extinguir o fogo por resfriamento e abafamento e, posteriormente - com a ajuda dos funcionários da transportadora - retiramos a carga para se certificar que não havia mais fogo em seu interior.

Também não custa lembrar que é primordial usar EPI completo e EPR, pois os tipos de material usados na construção dos refrigeradores são bastante tóxicos quando submetidos a fogo e/ou altas temperaturas.

O combate é feito por fora e deve-se tomar muito cuidado ao abrir as portas, pois poderão ocorrer fenômenos como flashover e backdraft.

Pode-se adentrar à carreta para retirar a carga somente quando tiver certeza que o fogo foi extinto.

Até a próxima!

sábado, 24 de junho de 2017

Encontrando a bateria do veículo

Na última quinta-feira, participei de uma ocorrência de resgate veicular em que tivemos certa dificuldade em localizar e desligar a bateria do veículo.


Em qualquer ocorrência de resgate veicular, é crucial desligar a(s) bateria(s), a fim de reduzir o risco de incêndio, caso haja vazamento de combustível. Se você tiver dúvida sobre este procedimento, veja este post.

Normalmente, a bateria fica sob o capô, mas em alguns veículos pode estar no porta-malas ou embaixo de algum dos bancos.

Ao abrir o capô, nos deparamos com uma indicação de "positivo", mas não havia bateria. Desconectamos este positivo, porém as luzes internas e pisca-alertas permaneceram ligados.

Abaixo do console central do automóvel, notamos um cabo de grande diâmetro, alaranjando, indo em direção ao porta malas.

Como a estrutura do veículo foi danificada no acidente, tivemos que abrir o porta-malas com uma ferramenta hidráulica, e encontramos a bateria no compartimento do estepe.

Desconectados os polos negativo e positivo, a energia foi finalmente cortada.

Analisando o polo positivo encontrado sob o capô, entendemos tratar-se de um dispositivo de segurança que interrompe a corrente elétrica que chega ao motor.

Entretanto, os demais equipamento internos e lanternas continuam ativos até que se encontre e se desligue a bateria.

Sob a ótica de risco de incêndio, a desconexão deste polo positivo junto ao motor seria suficiente, mas sob a ótica dos procedimentos de resgate e método SAVER, devemos encontrar a(s) bateria(s) e desconectá-la(s) completamente.

Só assim garantiremos que eventuais dispositivos de segurança não acionados (como airbags e pré-tensionadores) não serão ativados acidentalmente.

Até a próxima!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Estudo de caso: carro lateralizado vs. objeto fixo

Imagine o seguinte cenário: um carro colide com algum objeto (outro carro, um meio-fio, etc), fica lateralizado e esmagado contra um muro.

Ilustrando a situação:


Agora imagine que este carro é um sedan e que o teto foi comprimido contra este muro, não havendo acesso imediato pelo pára-brisas, vidro traseiro ou porta-malas, e com acesso bastante restrito pelas portas laterais.

Há uma vítima no interior (condutor), inconsciente. Neste cenário, não é possível um socorrista / resgatista adentrar o veículo para checar o estado geral da vítima, nem mesmo estabilizá-la.

Uma alternativa - possilvemente a mais recomendada - seria:

1. Estabilizar o veículo com calços e estabilizadores.
2. Remover portas laterais
3. Remover tampa do porta-malas e bancos traseiros.
4. Acessar a vítma para checar sua condição e estabilizá-la (se for possível).
5. Não sendo possível extraí-la pela porta lateral ou porta-malas, fazer um acesso pelo assoalho do carro.

O vídeo abaixo ilustra os procedimentos:


O problema dessa técnica é que ela exige muito tempo e, como a vítima não responde a comandos verbais, não é possível saber sua condição.

Até que um socorrista / resgatista consiga acessá-la, estabilizá-la e um acesso pelo assoalho seja feito, a condição da vítima pode piorar muito, eventualmente evoluindo para morte.

Uma alternativa não convencional seria realizar um "tombamento controlado" do veículo. Ilustrando:


Dessa forma, com o veículo com as quatro rodas no chão, ficaria muito mais fácil realizar o resgate, removendo completamente o teto.

Como a vítima não foi estabilizada, esta técnica tem de ser realizada de forma muito controlada. Pode-se utilizar cabos e guinchos de viaturas para desvirar o veículo cuidadosa e gradualmente.

O ideal é que os resgatistas também controlem o "tombamento" pela parte do assoalho do carro, evitando solavancos que possam agravar ainda mais a situação da vítima.

Concluindo, esta técnica pode ser usada em casos como o citado acima, onde não se conhece o estado geral da vítima, ela não responde a comandos verbais e não se tem fácil acesso por qualquer abertura (portas, porta-malas, pára-brisa).

Saudações!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Caso real: incêndio em empresa

Na madrugada de ontem, participei de uma ocorrência de combate a incêndio em uma empresa de fibra de vidro.



Este caso se enquadra perfeitamente na categoria 2 descrita no post sobre Incêndios em Indústrias

Ou seja, uma empresa de pequeno porte, com diversos materiais inflamáveis e explosivos, sem nenhum responsável técnico presente na chegada das primeiras guarnições, e sem que a equipe soubesse o que exatamente estava queimando.

Cheguei à cena com o combate já em andamento, mas colegas bombeiros me relataram explosões logo após a chegada das primeiras guarnições.

Neste caso, não havia edificações muito próximas da empresa, nem vítimas presas em seu interior. Então o combate se deu de três formas:

1- Protegendo o que ainda não tinha queimado (escritório).

2- Testando o agente extintor (água), que reagia com determinadas partes do incêndio - aumentando temporariamente as chamas, mas sem explosões.

3- Combatendo por cima com uso de auto-plataforma, causando resfriamento e abafamento.

Não havendo vítimas, sendo a empresa de pequeno porte e estando diversas paredes comprometidas, optou-se por combater externamente para reduzir o risco aos bombeiros.

Só mais ao final, no rescaldo e com segurança, adentrou-se à edificação para finalizar o combate.

Mesmo que a água reagisse com o fogo, optou-se por não usar LGE, pois com a chegada do responsável pela empresa, identificou-se que os materiais não exibiam risco de explosão em contato com água.

Fora isso, seria necessário grande quantidade de LGE para extinguir as chamas, representando um alto custo para um pequeno benefício.

Por fim, o combate foi longo, mas felizmente só teve danos materiais.

Lembre-se: este tipo de ocorrência apresenta grande risco para os bombeiros. Caso não tenha lido o post sobre Incêndios em Indústrias, recomendo a leitura.

Até a próxima!

segunda-feira, 8 de maio de 2017

RIT - Rapid Intervention Team

Já ouviu falar em RIT - Rapid Intervention Team?

O termo pode ser traduzido como Equipe de Intervenção Rápida, e basicamente é um grupo de dois ou mais bombeiros com a função de resgatar outro(s) bombeiro(s) em perigo.


O RIT não é um grupo de busca primária, nem de combate a incêndio. Esta equipe fica de prontidão do lado externo da edificação, podendo auxiliar em funções como avaliação 360o, abertura de acessos, ventilação e montagem de linhas de ataque, mas sempre em prontidão caso seja necessário resgatar algum bombeiro.

Geralmente não é uma equipe de primeira resposta na ocorrência - as primeiras equipes na cena realizarão o combate e a busca primária, se necessário.

Pode ser montada em qualquer tipo de incêndio estrutural, mas é mais usada em incêndios maiores (casas de alvenaria de grande porte, edifícios, grandes comércios, indústrias).

Durante as operações de combate e busca primária, podem ocorrer colapso de estruturas, quedas, desorientação e falta de ar no EPR, levando o bombeiro a pedir socorro via rádio ("Mayday").

Nestes casos, o RIT entra em ação para retirar o(s) bombeiro(s) da edificação.

***

Nota: estudos comprovaram que, diante de uma situação de falta de ar no EPR com desorientação, não sendo o bombeiro capaz de encontrar a saída por conta própria, o melhor a se fazer é solicitar socorro pelo rádio e permanecer em repouso.

Quando o alarme do EPR começa a soar (indicando que o ar está acabando), geralmente se tem de 3 a 5 minutos para sair da edificação, dependendo do esforço e da condição física do bombeiro. Se o bombeiro permancer em repouso, este tempo passa de 20 minutos!

Para mais informações, veja este vídeo.

***

Quando um bombeiro pede socorro - se for possível - é importante que ele se identifique, tente dar um ideia de onde se encontra, informe o nível de ar no seu EPR e as condições do local (colapso de estruturas, fumaça do chão ao teto, chamas, etc).

Dependendo do nível de ar, o RIT poderá ter que levar um EPR extra para conseguir extrair o bombeiro sem que este - ou o próprio RIT - fique sem ar.

Existem algumas ferramentas básicas que um RIT deve ter à mão para facilitar o resgate. Entre elas:

  • Alavanca Halligan.
  • Machado de arrombamento.
  • Corta-vergalhão.
  • Serra policorte.
  • Motosserra.
  • Bolsa com cabo (50m ou mais, para poder ter um guia de saída),
  • EPR extra.
  • Lanternas.
  • Rádio.

Se disponível, levar junto uma câmera térmica.

Os equipamentos que o RIT vai levar para dentro da edificação dependerão do local onde se encontra o bombeiro a ser resgatado, do nível de ar nos cilindros, do tipo de edificação, etc. A decisão é baseada na experiência do time para antever possíveis dificuldades.

Mas lembre-se que o RIT pode ter que carregar um ou mais bombeiros para fora da edificação. Portanto, quanto menos peso, melhor.

O RIT deve ser formado preferencialmente por bombeiros experientes e em boa condição física, pois a busca e a extração do(s) bombeiro(s) exigirá velocidade, decisão rápida e força.

Outro ponto importante é, sempre que possível, contar com uma equipe de pré-hospitalar no incêndio para atendimento dos bombeiros. Caso haja vítimas (não bombeiros), outras ambulâncias deverão ser solicitadas, sempre permanecendo uma delas no local.

Abaixo, um vídeo bem detalhado sobre o tema (infelizmente somente em inglês):



Saudações!

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Escape de emergência em escada

Existe um método de escape de emergência em incêndios que é bastante prático, rápido e relativamente seguro, desde que treinado e executado corretamente.

Pode ser executado com EPI e EPR completo, e com vários bombeiros em sequência.

Veja o vídeo abaixo:


Caso tenha interesse, o próximo vídeo traz um detalhamento do método:


Antes de executá-lo na vida real, pratique!

Até breve!

terça-feira, 2 de maio de 2017

Resgate veicular com múltiplas vítimas

É comum em ocorrências de resgate veicular nos depararmos com mais de uma vítima encarcerada.


Nestes casos, supondo que os recursos disponíveis sejam suficientes para o atendimento da ocorrência, teremos que priorizar o resgate das vítimas.

Para ocorrências em que a capacidade de atendimento ultrapassa a capacidade de resposta das equipes de socorro, recomenda-se adotar o método START (Simple Triage and Rapid Treatment - Triagem simples e tratamento rápido).

Nota: o objetivo deste post não é detalhar o método. Se tiver interesse, veja estes links: (START 1) (START 2).

Quando se fala em rescursos suficientes, refere-se aos resgatistas / socorristas, viaturas e equipamentos para desencarceramento, extração e transporte de todas as vítimas até o(s) hospital(is).

Suponha a seguinte situação:

Colisão carro x carro

Carro 1: 2 vítimas encarceradas, uma mecanicamente, outra com encarceramento físico tipo I, inconscientes.

Carro 2: 1 vítima com encarceramento mecânico, em PCR.

Qual deve ser a prioridade de atendimento?

Para este ocorrência, sua equipe dispõe de:

  • 1 caminhão de combate a incêndio e resgate, com 1 conjunto desencarcerador e guarnição de 1 motorista e 3 bombeiros.
  • 2 USBs, com guarnição de 1 motorista e 2 socorristas cada.

Primeiramente, independente do porte da ocorrência, os procedimentos são os mesmos (método SAVER, avaliação do local, estabilização dos veículos, etc).

Segundo, realizados os procedimentos iniciais, deve-se definir quais vítimas abordar primeiro.

Independente do sexo e da idade das vítimas, a sequência de atendimento é definida pela facilidade de extração e pelo maior "potencial" de sobrevivência.

Racionalmente, devemos considerar que a chance de sobrevivência da vítima em PCR é menor que a chance das outras duas vítimas.

Portanto, no exemplo acima, uma recomendação de atendimento seria:

1- Equipe USBs 1 e 2: cuidados pré-hostitalares e estabilização das vítimas no carro 1.

2- Equipe resgate: desencarceramento da vítima 1 do carro 1 (encarcerada mecanicamente).

3- Equipe USB 1: extração e transporte da vítima 1 do carro 1 ao hospital.

4- Equipe resgate: desencarceramento da vítima 2 do carro 1 (encarcerada fisicamente tipo I).

5- Equipe USB 2: extração e transporte da vítima 2 do carro 1 ao hospital.

6- Equipe resgate: desencarceramento e extração imediata (não controlada) da vítima do carro 2 (em PCR). Início dos procedimentos de reanimação até a chegada de apoio (USB, USA).

Caso seja possível desencarcerar e extrair a vítima em PCR sem o uso de desencarcerador (com alavanca Halligan e machado de arrombamento, por exemplo), a equipe de resgate deve fazê-lo.

Nota: como são três resgatistas e um motorista na guarnição, um resgatista e o motorista poderiam tentar o desencarceramento e a extração no carro 2 em paralelo ao carro 1.

Porém, o transporte ao hospital, no caso de somente 2 USBs, continua sendo prioritário para as duas vítimas inconscientes do carro 1.

Ocorrências com crianças, gestantes e idosos são mais impactantes, mas devemos ser racionais e priorizar as vítimas corretamente, para que possamos salvar o maior número possível delas.

Se a situação for mais extensa, com mais veículos e/ou vítimas envolvidas e o mesmo nível de recursos, deve-se partir para o método START, que traz justamente uma sistematização da priorização de atendimento.

Saudações!

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Holmatro Rescue Experience

Para quem ainda não conhece, vale a pena conferir um desafio de resgate veicular promovido pela Holmatro (fabricante de ferramentas de resgate), chamado Holmatro Rescue Experience.

O desafio ocorreu em 2015 na Alemanha.

Nesse link você encontrará vários vídeos e, abaixo, o de uma equipe brasileira!


Veja os vídeos e observe as técnicas, acertos e erros das equipes de todo o mundo. Tudo é aprendizado que podemos aplicar nas ruas.

Até a próxima!

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Resgate veicular: carro x poste

Na semana passada participei de uma ocorrência de resgate veicular, na qual um caminhão bateu num poste e derrubou-o sobre um carro. Veja na foto abaixo como ficou o veículo:


Chegando ao local, não tínhamos como ter certeza se a rede ainda estava energizada. E o condutor do automóvel estava encarcerado.

Já no despacho das viaturas, a central de emergências acionou a companhia de energia elétrica para ir ao local garantir a desenergização da rede. O problema é que as viaturas de resgate dos bombeiros se deslocam em prioridade nas vias, enquanto a companhia de energia não.

Ou seja, chegamos ao local sem poder tocar no veículo, e tivemos que aguardar a chegada da companhia, o que levou pelo menos 10 minutos.

Garantido que a rede estava desenergizada, desencarceramos e extraímos a vítima.

Neste caso, o condutor estava consciente e orientado, apenas com dores, alguns cortes e encarcerado mecanicamente.

Mas e se, por exemplo, estivesse inconsciente? Ou em PCR?

Infelizmente, ainda assim não poderíamos tocar no veículo enquanto não tivéssemos a garantia de que a rede estava desenergizada.

A prioridade é sempre evitar que se façam novas vítimas, ou seja, primeiro garantir a segurança da equipe de resgate e da população no entorno da ocorrência, depois efetuar o resgate. A razão deve prevalecer sobre a emoção.

Também não podemos culpar a equipe da companhia de energia pela demora, pois eles não têm autorização para deslocar em prioridade, com giroflex e sirene ligados.

Talvez o que precisa ser mudado é o procedimento para este tipo de ocorrência, permitindo que as companhias de energia possuam veículos de emergência que possam deslocar em prioridade, ou ainda um sistema de desenergização remota.

O acionamento imediato das companhias pelas centrais de emergência também ajuda a reduzir o tempo até a ocorrência.

Saudações!

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Almofadas pneumáticas

Em um post recente, abordei o tema estabilizadores (link).

Uma outra forma bastante útil de estabilizar e levantar veículos e estruturas colapsadas são as almofadas pneumáticas. Veja abaixo alguns exemplos:







As almofadas funcionam com o ar dos mesmos cilindros usados nos EPR.

Devem ser usadas sempre em conjunto com calços. Infla-se um pouco, calça-se o veículo ou a estrutura (com calços de madeira, por exemplo). Repete-se o processo até se alcançar a altura desejada.

Depois que o veículo ou a estrutura foi calçada, pode-se até desinflar e remover as almofadas, caso seja necessário usá-las em outro local.

Podem ser usadas empilhadas, de forma a aumentar a altura. Neste caso, a recomendação é primeiro inflar parcialmente a bolsa inferior, para criar uma espécie de base, para depois inflar as bolsas acima.

Atenção: conforme as almofadas inflam, elas reduzem a área de contato. Cuidado para não desestabilizar o veículo ou a estrutura. Por isto deve-se usar calços.

São usadas também para desvirar veículos, como nesta foto:


Abaixo, dois vídeos exemplificando o uso de almofadas.

No primeiro, um veículo capotado é levantado e estabilizado. Poderiam ser usadas para remover uma vítima debaixo dele, para melhorar o acesso aos resgatistas / socorristas ou mesmo apenas para estabilizá-lo:


Neste segundo vídeo, repare no poder de elevação das almofadas! Trata-se de um vagão de trem de dezenas de toneladas:


Saudações!

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A arte do improviso

Não importa o quanto você treine, quanta experiência tenha, os equipamentos que disponha, em algum momento você terá que improvisar.



Para nós, bombeiros, improviso não é sinônimo de "gambiarra". Improvisar é uma arte. É encontrar soluções alternativas eficazes com o que você tem em mãos.

Por mais que algumas ocorrências tenham similaridades, cada uma é um novo desafio e você precisa reconhecer que poderá não estar 100% preparado e/ou não dispor de todos os equipamentos necessários.

É humanamente impossível treinar e vivenciar todos os casos possíveis. Portanto, saber improvisar - usando sua experiência e seu conhecimento - é mais eficaz do que querer conhecer tudo sobre tudo.

Exemplos:

1- Faltará água no incêndio? Procure por fontes alternativas: hidrantes, piscinas, cisternas, prédios que tenham reserva técnica de incêndio, lagos, rios, córregos, etc.

2- A maca não tem os tirantes? Prenda a vítima com cabos solteiros e/ou ataduras.

3- Precisa retirar a vítima rapidamente do veículo e não dispõe de desencarcerador? Use a alavanca Halligan e um machado de arrombamento para abrir portas e porta-malas.

Nota: este procedimento poderá causar movimentação no veículo, portanto só deverá ser usado se não houver outra alternativa.

4- A escada não alcança determinado local? Coloque algum objeto embaixo da escada (um móvel, uma mesa, uma caçamba de lixo, etc) ou, se possível, posicione a viatura de forma a colocar a escada em cima dela.

5- Precisa fazer um rapel de emergência para escapar de um incêndio? Faça uma cadeirinha com cabo solteiro ou fita tubular.

6- Precisa retirar uma vítima "pesada" de uma edificação em chamas? Use um cabo solteiro ou uma fita tubular para arrastá-la para fora (o objetivo aqui não é estabilização, mas sim retirada rápida).

7- Não possui estabilizadores para estabilizar um veículo lateralizado? Use calços escalonados, cabos solteiros e/ou escadas (conforme exemplo no início).

8- O hidrante de recalque do prédio está com defeito? Coloque as mangueiras no hidrante de parede do térreo ou primeiro andar.

9- Sua guarnição chegou antes do caminhão de combate a incêndio? Ganhe tempo fazendo avaliação 360o, desligando a eletricidade, buscando informações sobre vítimas, isolando a área e realizando a abertura controlada de portas/janelas (faça o arrombamento, mas mantenha-as fechadas até chegar água).

Nota: se houver vítimas presas e condições para retirá-las sem aplicar água, prossiga. Dúvidas? Leia este post.

Enfim, existem outros inúmeros exemplos de improviso. Porém, para improvisar, é muito importante conseguir manter a calma e discutir alternativas com a equipe.

Quanto mais treinamento e experiência prática você tiver, mais facilmente conseguirá encontrar soluções para os problemas.

Até breve!