terça-feira, 2 de maio de 2017

Resgate veicular com múltiplas vítimas

É comum em ocorrências de resgate veicular nos depararmos com mais de uma vítima encarcerada.


Nestes casos, supondo que os recursos disponíveis sejam suficientes para o atendimento da ocorrência, teremos que priorizar o resgate das vítimas.

Para ocorrências em que a capacidade de atendimento ultrapassa a capacidade de resposta das equipes de socorro, recomenda-se adotar o método START (Simple Triage and Rapid Treatment - Triagem simples e tratamento rápido).

Nota: o objetivo deste post não é detalhar o método. Se tiver interesse, veja estes links: (START 1) (START 2).

Quando se fala em rescursos suficientes, refere-se aos resgatistas / socorristas, viaturas e equipamentos para desencarceramento, extração e transporte de todas as vítimas até o(s) hospital(is).

Suponha a seguinte situação:

Colisão carro x carro

Carro 1: 2 vítimas encarceradas, uma mecanicamente, outra com encarceramento físico tipo I, inconscientes.

Carro 2: 1 vítima com encarceramento mecânico, em PCR.

Qual deve ser a prioridade de atendimento?

Para este ocorrência, sua equipe dispõe de:

  • 1 caminhão de combate a incêndio e resgate, com 1 conjunto desencarcerador e guarnição de 1 motorista e 3 bombeiros.
  • 2 USBs, com guarnição de 1 motorista e 2 socorristas cada.

Primeiramente, independente do porte da ocorrência, os procedimentos são os mesmos (método SAVER, avaliação do local, estabilização dos veículos, etc).

Segundo, realizados os procedimentos iniciais, deve-se definir quais vítimas abordar primeiro.

Independente do sexo e da idade das vítimas, a sequência de atendimento é definida pela facilidade de extração e pelo maior "potencial" de sobrevivência.

Racionalmente, devemos considerar que a chance de sobrevivência da vítima em PCR é menor que a chance das outras duas vítimas.

Portanto, no exemplo acima, uma recomendação de atendimento seria:

1- Equipe USBs 1 e 2: cuidados pré-hostitalares e estabilização das vítimas no carro 1.

2- Equipe resgate: desencarceramento da vítima 1 do carro 1 (encarcerada mecanicamente).

3- Equipe USB 1: extração e transporte da vítima 1 do carro 1 ao hospital.

4- Equipe resgate: desencarceramento da vítima 2 do carro 1 (encarcerada fisicamente tipo I).

5- Equipe USB 2: extração e transporte da vítima 2 do carro 1 ao hospital.

6- Equipe resgate: desencarceramento e extração imediata (não controlada) da vítima do carro 2 (em PCR). Início dos procedimentos de reanimação até a chegada de apoio (USB, USA).

Caso seja possível desencarcerar e extrair a vítima em PCR sem o uso de desencarcerador (com alavanca Halligan e machado de arrombamento, por exemplo), a equipe de resgate deve fazê-lo.

Nota: como são três resgatistas e um motorista na guarnição, um resgatista e o motorista poderiam tentar o desencarceramento e a extração no carro 2 em paralelo ao carro 1.

Porém, o transporte ao hospital, no caso de somente 2 USBs, continua sendo prioritário para as duas vítimas inconscientes do carro 1.

Ocorrências com crianças, gestantes e idosos são mais impactantes, mas devemos ser racionais e priorizar as vítimas corretamente, para que possamos salvar o maior número possível delas.

Se a situação for mais extensa, com mais veículos e/ou vítimas envolvidas e o mesmo nível de recursos, deve-se partir para o método START, que traz justamente uma sistematização da priorização de atendimento.

Saudações!

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