quarta-feira, 26 de abril de 2017

Holmatro Rescue Experience

Para quem ainda não conhece, vale a pena conferir um desafio de resgate veicular promovido pela Holmatro (fabricante de ferramentas de resgate), chamado Holmatro Rescue Experience.

O desafio ocorreu em 2015 na Alemanha.

Nesse link você encontrará vários vídeos e, abaixo, o de uma equipe brasileira!


Veja os vídeos e observe as técnicas, acertos e erros das equipes de todo o mundo. Tudo é aprendizado que podemos aplicar nas ruas.

Até a próxima!

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Resgate veicular: carro x poste

Na semana passada participei de uma ocorrência de resgate veicular, na qual um caminhão bateu num poste e derrubou-o sobre um carro. Veja na foto abaixo como ficou o veículo:


Chegando ao local, não tínhamos como ter certeza se a rede ainda estava energizada. E o condutor do automóvel estava encarcerado.

Já no despacho das viaturas, a central de emergências acionou a companhia de energia elétrica para ir ao local garantir a desenergização da rede. O problema é que as viaturas de resgate dos bombeiros se deslocam em prioridade nas vias, enquanto a companhia de energia não.

Ou seja, chegamos ao local sem poder tocar no veículo, e tivemos que aguardar a chegada da companhia, o que levou pelo menos 10 minutos.

Garantido que a rede estava desenergizada, desencarceramos e extraímos a vítima.

Neste caso, o condutor estava consciente e orientado, apenas com dores, alguns cortes e encarcerado mecanicamente.

Mas e se, por exemplo, estivesse inconsciente? Ou em PCR?

Infelizmente, ainda assim não poderíamos tocar no veículo enquanto não tivéssemos a garantia de que a rede estava desenergizada.

A prioridade é sempre evitar que se façam novas vítimas, ou seja, primeiro garantir a segurança da equipe de resgate e da população no entorno da ocorrência, depois efetuar o resgate. A razão deve prevalecer sobre a emoção.

Também não podemos culpar a equipe da companhia de energia pela demora, pois eles não têm autorização para deslocar em prioridade, com giroflex e sirene ligados.

Talvez o que precisa ser mudado é o procedimento para este tipo de ocorrência, permitindo que as companhias de energia possuam veículos de emergência que possam deslocar em prioridade, ou ainda um sistema de desenergização remota.

O acionamento imediato das companhias pelas centrais de emergência também ajuda a reduzir o tempo até a ocorrência.

Saudações!

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Almofadas pneumáticas

Em um post recente, abordei o tema estabilizadores (link).

Uma outra forma bastante útil de estabilizar e levantar veículos e estruturas colapsadas são as almofadas pneumáticas. Veja abaixo alguns exemplos:







As almofadas funcionam com o ar dos mesmos cilindros usados nos EPR.

Devem ser usadas sempre em conjunto com calços. Infla-se um pouco, calça-se o veículo ou a estrutura (com calços de madeira, por exemplo). Repete-se o processo até se alcançar a altura desejada.

Depois que o veículo ou a estrutura foi calçada, pode-se até desinflar e remover as almofadas, caso seja necessário usá-las em outro local.

Podem ser usadas empilhadas, de forma a aumentar a altura. Neste caso, a recomendação é primeiro inflar parcialmente a bolsa inferior, para criar uma espécie de base, para depois inflar as bolsas acima.

Atenção: conforme as almofadas inflam, elas reduzem a área de contato. Cuidado para não desestabilizar o veículo ou a estrutura. Por isto deve-se usar calços.

São usadas também para desvirar veículos, como nesta foto:


Abaixo, dois vídeos exemplificando o uso de almofadas.

No primeiro, um veículo capotado é levantado e estabilizado. Poderiam ser usadas para remover uma vítima debaixo dele, para melhorar o acesso aos resgatistas / socorristas ou mesmo apenas para estabilizá-lo:


Neste segundo vídeo, repare no poder de elevação das almofadas! Trata-se de um vagão de trem de dezenas de toneladas:


Saudações!

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A arte do improviso

Não importa o quanto você treine, quanta experiência tenha, os equipamentos que disponha, em algum momento você terá que improvisar.



Para nós, bombeiros, improviso não é sinônimo de "gambiarra". Improvisar é uma arte. É encontrar soluções alternativas eficazes com o que você tem em mãos.

Por mais que algumas ocorrências tenham similaridades, cada uma é um novo desafio e você precisa reconhecer que poderá não estar 100% preparado e/ou não dispor de todos os equipamentos necessários.

É humanamente impossível treinar e vivenciar todos os casos possíveis. Portanto, saber improvisar - usando sua experiência e seu conhecimento - é mais eficaz do que querer conhecer tudo sobre tudo.

Exemplos:

1- Faltará água no incêndio? Procure por fontes alternativas: hidrantes, piscinas, cisternas, prédios que tenham reserva técnica de incêndio, lagos, rios, córregos, etc.

2- A maca não tem os tirantes? Prenda a vítima com cabos solteiros e/ou ataduras.

3- Precisa retirar a vítima rapidamente do veículo e não dispõe de desencarcerador? Use a alavanca Halligan e um machado de arrombamento para abrir portas e porta-malas.

Nota: este procedimento poderá causar movimentação no veículo, portanto só deverá ser usado se não houver outra alternativa.

4- A escada não alcança determinado local? Coloque algum objeto embaixo da escada (um móvel, uma mesa, uma caçamba de lixo, etc) ou, se possível, posicione a viatura de forma a colocar a escada em cima dela.

5- Precisa fazer um rapel de emergência para escapar de um incêndio? Faça uma cadeirinha com cabo solteiro ou fita tubular.

6- Precisa retirar uma vítima "pesada" de uma edificação em chamas? Use um cabo solteiro ou uma fita tubular para arrastá-la para fora (o objetivo aqui não é estabilização, mas sim retirada rápida).

7- Não possui estabilizadores para estabilizar um veículo lateralizado? Use calços escalonados, cabos solteiros e/ou escadas (conforme exemplo no início).

8- O hidrante de recalque do prédio está com defeito? Coloque as mangueiras no hidrante de parede do térreo ou primeiro andar.

9- Sua guarnição chegou antes do caminhão de combate a incêndio? Ganhe tempo fazendo avaliação 360o, desligando a eletricidade, buscando informações sobre vítimas, isolando a área e realizando a abertura controlada de portas/janelas (faça o arrombamento, mas mantenha-as fechadas até chegar água).

Nota: se houver vítimas presas e condições para retirá-las sem aplicar água, prossiga. Dúvidas? Leia este post.

Enfim, existem outros inúmeros exemplos de improviso. Porém, para improvisar, é muito importante conseguir manter a calma e discutir alternativas com a equipe.

Quanto mais treinamento e experiência prática você tiver, mais facilmente conseguirá encontrar soluções para os problemas.

Até breve!

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Quando vestir a máscara do EPR

Um dúvida recorrente entre bombeiros é quando vestir a máscara do EPR: no deslocamento para um incêndio, ou durante a ocorrência?

Pesquisei muito sobre o tema e falei com muitos bombeiros colegas meus. Aliado a isso, somei as experiências que já tive.

E a resposta é... depende!

Depende do tipo de ocorrência (incêndio em casa, prédio, indústria, veículo?), da distância de deslocamento (próximo ao quartel, longe?), da condição da máscara do EPR (visor riscado? Máscara normal ou de ampla visão?) e de um ponto que considero fundamental:

O quanto você está treinado para vestir a máscara no menor tempo póssivel!

Antes de discorrer sobre o tema, para os que acompanham o blog, devem ter lido o post sobre máscara do EPR (link). Nele eu postei um vídeo de um capitão do FDNY demonstrando a colocação da máscara em poucos segundos.

Quando menciono "estar treinado", é disso que estou falando!

Não viu o vídeo? Sugiro assisti-lo abaixo antes de continuar:


De tudo que vi e ouvi, somado à minha própria experiência, minha preferência é por não vestir a máscara durante o deslocamento. Motivos logo abaixo.

Opto por desembarcar da viatura como no vídeo acima, com mochila do EPR vestida e ajustada, máscara presa ao pescoço, balaclava abaixada no pescoço e capacete na cabeça.

A única diferença é que não deixo o regulador conectado à mascara. Prefiro vesti-la e conectar o regulador ao final.

Em paralelo, procuro treinar para colocar a máscara o mais rápido possível. Lembre-se que nisto incluem-se retirar luvas, retirar o capacete, ajustar a máscara à cabeça, vestir a balaclava, recolocar o capacete, ajustá-lo e vestir novamente as luvas.

Motivos:

1- Durante o deslocamento e chegando à cena, é muito importante coletar o máximo de informações possível. A máscara dificulta tanto a comunicação quanto a visão.

2- Se você tiver que subir escadas - e supondo que, para conservar o ar do cilindro, você só conectará o regulador à máscara quando for entrar em um ambiente com fumaça e/ou calor - provavelmente a sua máscara embaçará, prejudicando a visão e a avaliação das condições da cena.

3- Por falta de cuidados e/ou de recursos, muitas vezes os visores das máscaras ficam bem riscados, dificultando a visão.

4- Dependendo da situação, pode não ser preciso usar EPR - pelo menos não de imediato. É comum fazer uma avaliação 360o, montar as linhas de ataque, iniciar um ataque externo para só então adentrar a edificação. Estas atividades são melhor performadas sem a máscara.

5- Como mencionado no post sobre o que levar em seu EPI (link), o equipamento completo de um bombeiro pode pesar entre 25 e 35 kg. A máscara vestida e não conectada ao regulador e cilindro fará com que você se canse muito mais rápido.

Por fim, não esqueça de vestir primeiro a máscara, depois subir a balaclava. Só assim você garante a vedação correta.


Saudações!

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Incêndios em indústrias

Incêndios em indústrias são possivelmente os mais perigosos para os bombeiros, pois existe uma infinidade de materiais combustíveis, com diferentes potenciais explosivos e que demandam agentes extintores distintos.


Porém, podemos simplificar os incêndios em duas categorias principais:

1- Empresas de médio/grande porte, estruturadas, com brigada de incêndio, responsáveis técnicos e padronização de procedimentos de emergência.

2- Pequenas empresas sem brigada, ou que só atendem a legislação no papel, ou empresas de "fundo de quintal", ou ainda irregulares / ilegais.

O motivo desta categorização se dá por conta dos diferentes procedimentos a serem adotados. 

Obviamente existem exceções - como pequenas empresas que não só seguem a lei, como vão além e são exemplos de prevenção. Mas, para fins didáticos e por experiência própria, essa categorização ilustra bem os principais cenários.

Nota: para este post, estou considerando empresas industriais, não comércios nem empresas de serviços.

Categoria 1 - empresas de médio/grande porte:


Os bombeiros geralmente só são acionados quando a situação foge ao controle dos brigadistas.

Chegando ao local, os bombeiros devem se colocar como auxiliares, e não como "donos" do processo.

Indústrias de grande porte costumam ser complexas, demandando conhecimento prévio que somente o pessoal interno detem.

Deve-se procurar identificar de prontidão que materiais estão queimando e questionar os responsáveis técnicos ou brigadistas quais os procedimentos adequados para o combate. Siga as orientações deles.

Muito cuidado ao adentrar ambientes fechados, pois a falta de conhecimento da "geografia" do local pode causar desorientação. Recomenda-se sempre estar acompanhado de alguém da empresa.

Em determinados casos, os bombeiros serão responsáveis somente pela evacuação, isolamento da área e atendimento às vítimas, cabendo ao pessoal interno especializado o combate ao incêndio.

Categoria 2 - pequenas empresas: 


Este é o pior cenário para os bombeiros. Chegando à cena, você não sabe o que está queimando, o que pode ser usado para o combate, o potencial de explosão dos materiais e se há vítimas presas.

Além disso, nem sempre existe uma reserva técnica de incêndio e hidrantes de recalque "funcionais".

Neste caso, o combate será empírico, testando alternativas para encontrar a melhor forma de combate.

Se a água não reagir com o fogo, é um bom indício de que pode-se combater com a mesma.

Caso haja reação, deve-se partir para alternativas, como LGE (líquido gerador de espuma).

Se não houver nenhum responsável pela empresa, procure por informações com vizinhos, bem como contatos dos responsáveis.

Se houver um responsável, informe-se dos materiais utilizados na empresa para identificar o melhor método de combate.

A recomendação é sempre desligar a energia elétrica, porém cuidado se houver caldeiras em operação, pois a circulação de água não deve ser interrompida. Veja neste post como proceder.

Recomenda-se evacuar a vizinhança com grandes raios, pois não se sabe de antemão se existe ou não possibilidade de explosão.

Cuidado ao adentrar a empresa. Existem diversos riscos como colapso de estruturas, explosão de materiais, desorientação, entre outros.

Em caso de dúvidas, é preferível combater externamente até ter certeza dos materiais em combustão e dos danos à estrutura.

Lembre-se: o objetivo primordial é não permitir que o fogo se alastre para edificações vizinhas - proteger o que ainda não queimou. O que está queimando já está condenado.

Se não houver um agente extintor adequado, é preferível deixar que as chamas consomam o que já está em combustão e proteger o que ainda não queimou.

Importante: se houver vítimas presas, tente retirá-las com ajuda de escadas externas. Somente adentrar a empresa se a equipe julgar que o risco está controlado.

Devemos primeiramente preservar a vida da equipe e da população no entorno da ocorrência. Cuidado para não gerar mais vítimas, nem se tornar uma!

Caso real:

Há uns 3 anos participei de um incêndio que se enquadrou na categoria 2. Era noite, não havia responsáveis pela empresa e os mesmos só chegaram ao local no rescaldo.

Tentamos combater com água, porém a mesma reagia com o fogo, formando grandes labaredas azuladas/esverdeadas.

O teto e algumas paredes internas já estavam colapsados. Optamos por realizar o combate externamente, não permitindo que o fogo se alastrasse.

Em paralelo, montamos uma linha de ataque com LGE para testar a eficácia e, felizmente, deu certo.

Com a chegada de apoio, continuamos resfriando externamente e começamos a combater internamente com LGE.

Como o teto já havia desabado, o risco de adentrar a estrutura estava controlado.

Todas as residências vizinhas foram evacuadas com um raio em torno de 100m.

O fogo foi extinto e, ao final, descobrimos que se tratava de produtos químicos para produção de espumas para colchões. Ninguém se feriu.

Até breve!

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Rollover

Um dos fenômenos do fogo mais comum em incêndios é o rollover.


Pode ser definido como a ignição espontânea e esporádica dos gases combustíveis no nível do teto.

Em outras palavras, com o desenvolvimento do incêndio - chamado de fase de crescimento - os gases quentes sobem e a temperatura destes gases próxima ao teto chega a um ponto em que os próprios gases entram em combustão.

É como se as chamas "rolassem" pelo teto, daí o novo rollover.

Se água não for aplicada logo, a tendência é que o rollover evolua para um flashover, que é a ignição repentina de todas as fontes combustíveis no ambiente (móveis, eletrodomésticos, tinta das paredes, carpetes, gases da combustão, etc).

Veja no vídeo abaixo um belo exemplo de rollover captado pela câmera no capacete de um bombeiro:


Saudações!

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Exemplo real de erro de ventilação

Um dos objetivos deste blog é trazer o máximo de exemplos reais de ocorrências, de forma a demonstrar as técnicas e dicas aqui apresentadas.

Navegando pelo Youtube, deparei-me com esta ocorrência recente nos EUA (fevereiro de 2017), em uma loja de móveis.

Antes de assistir o vídeo, alguns comentários:

1- Repare que, ao chegar ao local, os bombeiros se depararam com um incêndio de ventilação limitada, caracterizado por poucas chamas e muita fumaça.

2- Um bombeiro tenta realizar uma abertura de porta de metal com uma serra policorte. Note que, ao realizar a abertura, uma grande quantidade de fumaça começa a sair. Esta abertura caracteriza um fluxo bidirecional, que pode ser facilmente controlado restringindo a entrada de ar (mantendo a porta o mais fechada possível).

3- Na sequência - e aí está o grande erro! - um bombeiro começa a quebrar janelas laterais em uma altura superior às portas, criando um fluxo unidirecional. Note que a fumaça escura e densa ganha velocidade e rapidamente as chamas tomam conta da loja.

4- Neste ponto, a loja já está condenada.

5- Repare também que leva bastante tempo para que façam a proteção de uma loja vizinha, o que já deveria ter sido feito logo que o fogo se alastrou.

6- Por fim, note como o incêndio foi combatido rapidamente depois da chegada de auto-escadas/plataformas. Como o teto já havia desabado, o fato de jogar água por cima do ambiente causa não só resfriamento, mas também abafamento do fogo. Retirando calor e limitando o comburente (ar), as chamas logo são extintas.

Agora, veja o vídeo:


Conclusão:

É crucial que as equipes conheçam as técnicas de ventilação e saibam ler os fluxos de gases. Uma ventilação adequada pode reduzir o estrago causado tanto pelo fogo quando pela água usada no combate.

Se você não conseguiu ler os posts anteriores relacionados ao tema, recomendo fortemente a leitura nestes links:




Até a próxima!

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Procedimentos iniciais para incêndios em edifícios

Antes de prosseguir, devemos definir a diferença entre edifício e edificação. Para fins didáticos, um edifício pode ser entendido como um prédio. Uma edificação é qualquer construção.

Neste post, vamos tratar dos edifícios (prédios) que possuem elevador, escada enclausurada, central de gás, sistema de recalque e alarme de incêndio. Se for um edifício comercial (um hotel, por exemplo), dependendo da legislação soma-se ainda sistema de sprinklers.

Voltando um pouco no tempo, as atuais legislações estaduais que regem sistemas contra incêndios em edifícios começaram a sair do forno após dois grandes incêndios ocorridos na cidade de São Paulo: edifício Andraus em 1972 e Joelma em 1974.

Já os mencionei no post sobre uso de helicópteros em incêndios.

Hoje, os sistemas contra incêndio tornaram mais difícil que o fogo se propague por vários andares e, se propagar, as chances de escapar com vida são muito maiores.

Entretanto, do ponto de vista dos bombeiros, continuam sendo ocorrências de alto risco e desgaste físico.

Visando controlar os riscos e combater o incêndio da forma mais eficaz possível, existe um procedimento padronizado para este tipo de ocorrência, o qual vai desde o posicionamento das viaturas até os papéis de cada bombeiro na cena.

Um primeiro ponto de atenção é o posicionamento, principalmente das primeiras viaturas que chegam à cena (caminhões de combate a incêndio). Muitos motoristas têm a tendência de estacionar em frente ao edifício, o que é um equívoco.

São dois motivos principais:

1- Partes do edifício podem se soltar e atingir as viaturas.

2- Deve-se deixar espaço para que auto-escadas/plataformas possam se posicionar de forma a atingir os andares mais altos.

Veja na foto abaixo um exemplo do que é um mal posicionamento:


O segundo ponto é definir os papéis da equipe - o que geralmente ocorre já no deslocamento até a ocorrência.

São 4 papéis fundamentais:
  • Motorista
  • Homem-fogo
  • Homem-luz
  • Auxiliar

Motorista:

As funções primordiais do motorista são:
  • Posicionar corretamente a viatura.
  • Encontrar o hidrante de recalque do edifício.
  • Recalcar o hidrante com mangueiras (geralmente 2 1/2 pol).
  • Pressurizar a linha de recalque (ele deverá calcular a pressão baseado no número de andares até o incêndio).
  • Monitorar o consumo de água (podem haver vazamentos no sistema de recalque, devendo-se, neste caso, reposicionar as mangueiras - pode-se usar um hidrante no piso térreo ou no primeiro andar, por exemplo).
  • Manter a comunicação com o homem-fogo (até a chegada de apoio e do chefe da equipe).

Se houver sistema de sprinklers, uma segunda opção é pressurizar este sistema (os recalques são separados!). Sprinklers são altamente eficazes no combate ao incêndio.

Homem-luz:

Suas funções iniciais são:
  • Fechar o registro geral na central de gás.
  • Abaixar os elevadores e inutilizá-los (um móvel ou qualquer objeto nas portas é suficiente).
  • Desligar a chave geral de energia elétrica.

Dica 1: se houver algum porteiro, zelador ou síndico, peça ajuda para encontrar as chaves e registros gerais.

Dica 2: se o alarme de incêndio não estiver acionado, recomenda-se acioná-lo para que os moradores saibam que devem evacuar o edifício.

Após finalizar a etapa inicial, recomenda-se ao homem-luz:
  • Posicionar um ventilador de pressão positiva (VPP) na porta da escada enclausurada no andar térreo, de forma a pressurizá-la. Isto garantirá ar fresco em toda a escada e evitará que fumaça entre na mesma.
  • Subir até o andar em chamas para auxiliar o homem-fogo e o auxiliar. Recomenda-se levar cilindros de EPR extras.

As ferramentas recomendadas para o homem-luz são: luvas de alta tensão, corta-vergalhão, alicate, chaves de fenda, chaves de boca e outras ferramentas para executar as funções acima.

Dica 3: calços ajudam a prender as portas corta-fogo no andar térreo.

Homem-fogo:

Sua principal função é subir até o andar em chamas para combate e busca primária, se houver indício ou confirmação de vítima(s) presa(s) no(s) apartamento(s) - em caso de dúvidas sobre fazer ou não a busca primária, veja este post.

As ferramentas que ele deve levar variam de corporação para corporação, mas recomenda-se ao menos uma mangueira de 1 1/2 pol com esguicho e redutor, lanterna e rádio. Obviamente, com EPI e EPR completos.

Atenção: a maioria dos esguichos automáticos tem uma pressão mínima de trabalho (7 bar, 7,5 bar), o que pode fazê-los não funcionar direito dependendo do andar do incêndio. Recomenda-se levar esguichos tipo Elkhart:



Auxiliar:

Sua função, como o nome diz, é auxiliar o homem-fogo tanto no combate quanto na busca primária. As ferramentas mínimas recomendadas são alavanca Halligan e machado de arrombamento. EPI e EPR completos.

Geralmente é o auxiliar que faz a entrada forçada no(s) apartamento(s) em chamas.

Recomendações:

Se a equipe contar apenas com um motorista e dois bombeiros, o motorista deverá assumir o papel de homem-luz.

Assim que mais recursos chegarem à ocorrência, recomenda-se que outros bombeiros devidamente equipados com EPI e EPR se dirijam ao andar do incêndio para revesar com o homem-fogo e auxiliar.

Em caso de incêndio em múltiplos apartamentos / andares, a primeira equipe deverá iniciar o combate - e a busca primária, se necessário - no andar mais baixo que estiver em chamas - onde geralmente o fogo se iniciou.

Com a chegada de apoio, outras duplas de homem-fogo e auxiliar farão o mesmo processo nos demais apartamentos, sempre do andar mais baixo para o mais alto.

Evacuação e buscas:

A evacuação do edifício deve ser realizada mesmo que o alarme de incêndio já tenha sido acionado. 

Recomenda-se que ao menos os apartamentos no mesmo andar do(s) apartamento(s) em chamas, o andar acima do incêndio e o andar imediatamente abaixo sejam checados porta a porta, para evitar que moradores fiquem para trás.

Caso não haja indício ou confirmação de vítimas presas no(s) apartamento(s) em chamas, de forma que não seja necessária uma busca primária, deve-se realizar uma busca secundária assim que a situação permitir.

Auto-escadas/plataformas:


O uso destes equipamentos é bastante importante, pois permite:

1- Acessar andares mais altos pelo lado externo.

2- Resgatar vítimas, caso os bombeiros não consigam acessá-las pela escada enclausurada e adentrar os apartamentos.

3- Resfriar os gases superaquecidos, contendo a evolução do incêndio e reduzindo o risco de fenômenos como flashover e backdraft.


Saudações!