segunda-feira, 3 de abril de 2017

Procedimentos iniciais para incêndios em edifícios

Antes de prosseguir, devemos definir a diferença entre edifício e edificação. Para fins didáticos, um edifício pode ser entendido como um prédio. Uma edificação é qualquer construção.

Neste post, vamos tratar dos edifícios (prédios) que possuem elevador, escada enclausurada, central de gás, sistema de recalque e alarme de incêndio. Se for um edifício comercial (um hotel, por exemplo), dependendo da legislação soma-se ainda sistema de sprinklers.

Voltando um pouco no tempo, as atuais legislações estaduais que regem sistemas contra incêndios em edifícios começaram a sair do forno após dois grandes incêndios ocorridos na cidade de São Paulo: edifício Andraus em 1972 e Joelma em 1974.

Já os mencionei no post sobre uso de helicópteros em incêndios.

Hoje, os sistemas contra incêndio tornaram mais difícil que o fogo se propague por vários andares e, se propagar, as chances de escapar com vida são muito maiores.

Entretanto, do ponto de vista dos bombeiros, continuam sendo ocorrências de alto risco e desgaste físico.

Visando controlar os riscos e combater o incêndio da forma mais eficaz possível, existe um procedimento padronizado para este tipo de ocorrência, o qual vai desde o posicionamento das viaturas até os papéis de cada bombeiro na cena.

Um primeiro ponto de atenção é o posicionamento, principalmente das primeiras viaturas que chegam à cena (caminhões de combate a incêndio). Muitos motoristas têm a tendência de estacionar em frente ao edifício, o que é um equívoco.

São dois motivos principais:

1- Partes do edifício podem se soltar e atingir as viaturas.

2- Deve-se deixar espaço para que auto-escadas/plataformas possam se posicionar de forma a atingir os andares mais altos.

Veja na foto abaixo um exemplo do que é um mal posicionamento:


O segundo ponto é definir os papéis da equipe - o que geralmente ocorre já no deslocamento até a ocorrência.

São 4 papéis fundamentais:
  • Motorista
  • Homem-fogo
  • Homem-luz
  • Auxiliar

Motorista:

As funções primordiais do motorista são:
  • Posicionar corretamente a viatura.
  • Encontrar o hidrante de recalque do edifício.
  • Recalcar o hidrante com mangueiras (geralmente 2 1/2 pol).
  • Pressurizar a linha de recalque (ele deverá calcular a pressão baseado no número de andares até o incêndio).
  • Monitorar o consumo de água (podem haver vazamentos no sistema de recalque, devendo-se, neste caso, reposicionar as mangueiras - pode-se usar um hidrante no piso térreo ou no primeiro andar, por exemplo).
  • Manter a comunicação com o homem-fogo (até a chegada de apoio e do chefe da equipe).

Se houver sistema de sprinklers, uma segunda opção é pressurizar este sistema (os recalques são separados!). Sprinklers são altamente eficazes no combate ao incêndio.

Homem-luz:

Suas funções iniciais são:
  • Fechar o registro geral na central de gás.
  • Abaixar os elevadores e inutilizá-los (um móvel ou qualquer objeto nas portas é suficiente).
  • Desligar a chave geral de energia elétrica.

Dica 1: se houver algum porteiro, zelador ou síndico, peça ajuda para encontrar as chaves e registros gerais.

Dica 2: se o alarme de incêndio não estiver acionado, recomenda-se acioná-lo para que os moradores saibam que devem evacuar o edifício.

Após finalizar a etapa inicial, recomenda-se ao homem-luz:
  • Posicionar um ventilador de pressão positiva (VPP) na porta da escada enclausurada no andar térreo, de forma a pressurizá-la. Isto garantirá ar fresco em toda a escada e evitará que fumaça entre na mesma.
  • Subir até o andar em chamas para auxiliar o homem-fogo e o auxiliar. Recomenda-se levar cilindros de EPR extras.

As ferramentas recomendadas para o homem-luz são: luvas de alta tensão, corta-vergalhão, alicate, chaves de fenda, chaves de boca e outras ferramentas para executar as funções acima.

Dica 3: calços ajudam a prender as portas corta-fogo no andar térreo.

Homem-fogo:

Sua principal função é subir até o andar em chamas para combate e busca primária, se houver indício ou confirmação de vítima(s) presa(s) no(s) apartamento(s) - em caso de dúvidas sobre fazer ou não a busca primária, veja este post.

As ferramentas que ele deve levar variam de corporação para corporação, mas recomenda-se ao menos uma mangueira de 1 1/2 pol com esguicho e redutor, lanterna e rádio. Obviamente, com EPI e EPR completos.

Atenção: a maioria dos esguichos automáticos tem uma pressão mínima de trabalho (7 bar, 7,5 bar), o que pode fazê-los não funcionar direito dependendo do andar do incêndio. Recomenda-se levar esguichos tipo Elkhart:



Auxiliar:

Sua função, como o nome diz, é auxiliar o homem-fogo tanto no combate quanto na busca primária. As ferramentas mínimas recomendadas são alavanca Halligan e machado de arrombamento. EPI e EPR completos.

Geralmente é o auxiliar que faz a entrada forçada no(s) apartamento(s) em chamas.

Recomendações:

Se a equipe contar apenas com um motorista e dois bombeiros, o motorista deverá assumir o papel de homem-luz.

Assim que mais recursos chegarem à ocorrência, recomenda-se que outros bombeiros devidamente equipados com EPI e EPR se dirijam ao andar do incêndio para revesar com o homem-fogo e auxiliar.

Em caso de incêndio em múltiplos apartamentos / andares, a primeira equipe deverá iniciar o combate - e a busca primária, se necessário - no andar mais baixo que estiver em chamas - onde geralmente o fogo se iniciou.

Com a chegada de apoio, outras duplas de homem-fogo e auxiliar farão o mesmo processo nos demais apartamentos, sempre do andar mais baixo para o mais alto.

Evacuação e buscas:

A evacuação do edifício deve ser realizada mesmo que o alarme de incêndio já tenha sido acionado. 

Recomenda-se que ao menos os apartamentos no mesmo andar do(s) apartamento(s) em chamas, o andar acima do incêndio e o andar imediatamente abaixo sejam checados porta a porta, para evitar que moradores fiquem para trás.

Caso não haja indício ou confirmação de vítimas presas no(s) apartamento(s) em chamas, de forma que não seja necessária uma busca primária, deve-se realizar uma busca secundária assim que a situação permitir.

Auto-escadas/plataformas:


O uso destes equipamentos é bastante importante, pois permite:

1- Acessar andares mais altos pelo lado externo.

2- Resgatar vítimas, caso os bombeiros não consigam acessá-las pela escada enclausurada e adentrar os apartamentos.

3- Resfriar os gases superaquecidos, contendo a evolução do incêndio e reduzindo o risco de fenômenos como flashover e backdraft.


Saudações!

Nenhum comentário:

Postar um comentário