sexta-feira, 24 de março de 2017

Vazamento de GLP em apartamentos

Existem diversas instruções sobre vazamentos de GLP (gás liquefeito de petróleo), mas poucas abordam uma situação bem específica e que consiste em alto risco para os bombeiros:

O vazamento de GLP dentro de um apartamento fechado.

Para este post, tive de recorrer a uma mescla de fontes externas (citadas ao final) com experiência e conhecimento próprios.

Imagine o seguinte cenário:

Você e sua equipe são acionados para um vazamento de GLP em um apartamento.

Chegando ao local, o síndico / porteiro / zelador indica qual o andar e a unidade. Mas informa que os moradores estão em viagem e o apartamento encontra-se fechado.

Vocês fecham o registro geral do gás, baixam os elevadores e desligam a eletricidade.


Chegando ao andar - propriamente equipados com EPI, EPR, ferramentas, mangueira e esguicho - vocês sentem o forte "cheiro" do gás já no corredor.

Nota: o "cheiro" não é do gás, mas da substância mercaptano que é adicionada para gerar o odor.

Por precaução, solicitam a evacuação dos apartamentos no mesmo andar e andares imediatamente acima e abaixo.

Fecham também o registro no corredor, mas sabem que precisam ventilar o local o mais rápido possível, pois o GLP é mais denso que o ar e ficará enclausurado no apartamento.

O que e como fazer?

1- Equipamentos:

Um primeiro ponto de atenção é o seu próprio equipamento. Não se deve adentrar locais com alta concentração de GLP portando metais, rádio-comunicadores e lanternas que não sejam intrínsecas (para ambientes explosivos).

Retire tudo que não for essencial e deixe na escada enclausurada. Recomenda-se inclusive retirar as botas - fique de meias - para evitar qualquer atrito com objetos que possam gerar faíscas.

Deixe canivetes, alicates, mosquetões e outros objetos de metal.

Mas use seu EPR (com cilindro de composite, não de aço!) para evitar asfixia e/ou intoxicação.

2- Linha de ataque:

Prepare uma linha de ataque usando o hidrante no corredor e a mangueira e o esguicho que vocês trouxeram. Ela é a sua segurança em caso de explosão.

Nota: o caminhão de combate a incêndio deve estar conectado ao hidrante de recalque do prédio e pressurizar a rede.

3- Entrada forçada:

Você poderá precisar arrombar a porta. O procedimento é o mesmo de entradas forçadas com alacanva Halligan.

Importante: procure posicionar a Halligan entre a porta e o caixilho - de madeira - de modo a não gerar atrito com partes metálicas. E faça movimentos suaves.

Nota: um pouco de atrito entre a fechadura metálica na porta e no caixilho é inevitável.

4- Ventilação:

Realizada a abertura da porta, um bombeiro deve ficar posicionado do lado de fora, no corredor, com a linha pressurizada e pronta para uso.

Outro deve entrar no apartamento somente com seu EPI básico, EPR e lanterna intrínseca, e abrir o máximo de portas e janelas que conseguir.

Cuidado com janelas metálicas! Abra devagar.

Na sequência, sugere-se posicionar um ventilador de pressão positiva na saída da escada enclausurada, de forma a "empurrar" o ar da escada - livre de GLP - para o corredor e para o apartamento, enfraquencendo a mistura GLP-Ar e "expulsando" o GLP pelas janelas.

Proceda até que o "cheiro" de GLP tenha reduzido drasticamente.

Feito isto, pode-se encerrar a operação e religar a eletricidade.

Atenção: peça ao síndico / porteiro / zelador para manter o registro geral fechado até que uma empresa ou técnico especializado possa avaliar e fazer o reparo.

Considerações finais:

Os manuais sugerem o uso de água, CO2 ou PQS (pó quimico seco) para saturar o ambiente em caso de alta concentração de GLP. A meu ver, esta é uma última opção.

Os limites inferior e superior de inflamabilidade do GLP são 1,8% e 9,5%, respectivamente. Isto significa que uma pequena quantidade de gás (1,8%) misturada ao ar já é suficiente para gerar uma explosão, caso haja uma fonte de ignição.



Por outro lado, quantidades grandes de gás (acima de 9,5%) tornarão a mistura GLP-Ar muito rica e não haverá possibilidade de combustão.

Portanto, uma alta concentração de GLP acaba sendo menos prejudicial que uma baixa, reduzindo o risco de explosão ao ter que arrombar uma porta e abrir janelas para ventilar o ambiente.

Por fim, muitos bombeiros efetuam a entrada forçada e a ventilação do ambiente sem o apoio de uma linha de ataque pressurizada. Isto é um erro! Em caso de fogo / explosão, você precisará da linha para combater as chamas e retirar o bombeiro que estava dentro do ambiente.

Lembre-se: devemos sempre "pecar" por excesso, nunca por falta.

Fontes:

FISPQ Liquigas
Bombeiros Emergência - GLP
Limites de inflamabilidade

Saudações!

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