quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Combate a incêndio em HEV e EV

Posso combater um incêndio em veículos híbridos (HEV) e elétricos (EV) com água?

Antes de responder a esta e outras perguntas, se você não leu os posts anteriores, sugiro ao menos ler o post sobre a definição de HEV e EV (link).

A pergunta acima é bastante lógica. Se um veículo possui um banco de baterias em alta tensão, bem como diversos componentes ligados a ele, em caso de incêndio poderá haver ruptura dos cabos e componentes.

Neste caso, esta energia não poderia entrar em contato com a carroceria do carro e provocar um choque elétrico no bombeiro ao se jogar água?

Felizmente, este tema é abordado tanto nos guias de resgate dos fabricantes (conforme já apresentei nos posts anteriores), como também em estudos realizados por institutos como:


Ao final deste post, trago um vídeo (somente em inglês) que apresenta os resultados das pesquisas conduzidas por estas instituições. Abaixo, explico estes resultados.

Para realizar os testes, usaram um simulador de carro, com bancos, carpetes, plásticos e demais materiais encontrados normalmente em veículos. Abaixo do assoalho, posicionaram um banco de baterias de alta tensão carregado.

Espalharam sensores ao longo do veículo para medir correntes elétricas, tensões, temperaturas, etc. Colocaram sensores de corrente também na ponta do esguicho, para poder medir se havia alguma corrente durante o combate.





Note que eles propositalmente encostaram esguicho, mangueira e corpo do bombeiro na carroceria do veículo, para poder medir as correntes elétricas.

1- Água pode ser usada e é efetiva?

A resposta é sim! Porém, uma vez que o banco de baterias de alta tensão estiver em chamas, mais água será necessária. Em um dos testes, foi necessário quase 10.000 litros de água para apagar por completo as chamas!

Além disso, deve-se ter em mente que as baterias de alta tensão não ficam expostas, mas sim em locais de difícil acesso como embaixo do assoalho, do banco traseiro, do porta-malas ou do console central. Por conta disso, mais água deverá ser usada para resfriá-las indiretamente.

2- Há alguma diferença na operação de combate?

Sim! Enquanto incêndios em veículos convencionais são apagados rapidamente (comparando carro com carro, obviamente), incêndios em HEV e EV podem demorar cerca de uma hora para serem extintos.

Mesmo que não haja chamas visíveis, deve-se continuar resfriando o banco de baterias para evitar a reignição.

O estudo também avaliou o tempo total de queima do banco de baterias, caso água não esteja disponível, e o resultado foi 1 hora e 34 min. Mas isto não quer dizer que o veículo não possa queimar por mais tempo, já que existem muitos outros materiais combustíveis.

3- Quais os subprodutos da combustão?

Os principais subprodutos são os mesmos de qualquer incêndio: CO e CO2. Isto não significa que não existam outros até mais tóxicos e, por este motivo, é primordial o uso de EPR nas operações de combate.

Nota: é muito comum assistirmos na mídia a combates a incêndio em veículos em que os bombeiros não estão usando EPR. Isto é um erro! Independente do veículo, deve-se sempre usar EPR. Até porque, dependendo do incêndio, você não conseguirá distinguir um HEV ou EV de um veículo convencional.

4- Existe potencial de choque elétrico?

Não! Em todos os estudos prévios e testes práticos realizados, não se constatou presença de correntes elétricas no esguicho ou nos bombeiros. O motivo é que um veículo, diferente de um edifício, não está aterrado.

Para se ter corrente elétrica, deve-se ter um circuito fechado. Se o carro não está aterrado, o fato do jato de água, do esguicho ou do corpo do bombeiro encostar na carroceria não configura um fechamento de circuito.

Portanto, o combate pode ser realizado como em um veículo convencional, mas atentando para disponibilizar mais água e gastar mais tempo no resfriamento / rescaldo.

Dica 1: caso não disponha de um hidrante por perto, peça à central apoio de outro caminhão tanque para garantir água suficiente.

Dica 2: devido ao maior tempo de combate, disponibilize mais cilindros de ar para EPR.

Dica 3: carros HEV e EV costumam ter aberturas na carroceria para refrigeração dos bancos de bateria. São bons lugares para se jogar água e atingir diretamente as baterias.


Dica 4: assim como no resgate veicular em HEV e EV (link), não danifique componentes e cabos de alta tensão.

Dica 5: se dispuser de uma câmera térmica, use-a para monitorar a temperatura no banco de baterias.


Dica 6: como os bancos de baterias são "caixas fechadas", pode ocorrer reignição horas depois de finalizado o combate, caso o resfriamento não tenha sido adequadamente realizado.

Sinalize para o serviço de guincho a necessidade de posicionar este veículo afastado pelo menos 15 metros dos demais veículos.


Por fim, pode-se usar espuma ("LGE")?

Sim, porém não é necessário. Será gasto muito LGE em um combate que pode ser efetuado com água. Questão de custo - benefício.

Obs.: todas as imagens acima foram retiradas do vídeo abaixo, disponível no Youtube:


Até breve!

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