Há umas duas semanas participei de uma ocorrência de combate a incêndio em uma carreta carregada de refrigeradores:
Chegando ao local, uma primeira guarnição já havia chegado e combatido o incêndio, cabendo a nós apenas auxiliar no rescaldo e na remoção da carga.
A ocorrência em si não teve grandes proporções e dificuldades, porém o mais intrigante foi entender como o fogo começou.
Esta carreta estava dentro de uma transportadora. Segundo relatos dos funcionários, ela estava parada no pátio, desconectada do cavalo mecânico e de qualquer fonte de energia elétrica. No momento também não havia chuva e raios.
De repente, eles começaram a avistar fumaça saindo da carreta e, num ato de muita coragem, um dos funcionários que manobrava um cavalo mecânico conectou-o na carreta e a levou para fora da transportadora, evitando que o fogo se espalhasse para os demais caminhões ao redor.
Extinto o fogo, procuramos por indícios de como o incêndio poderia ter começado. Não havia qualquer sinal de derretimento ou avaria na parte elétrica, nos pneus, freios ou qualquer outra parte externa da carreta. De fato, a história de que ela não estava conectada a nada parecia fazer sentido.
Então começamos a cogitar vazamento de gás de algum refrigerador, pois alguns gases usados no sistema de refrigeração podem ser inflamáveis.
A pergunta seguinte foi: o que gerou uma faísca para que o fogo se iniciasse?
A hipótese mais plausível foi a de energia estática, pois os refrigeradores são envoltos com isopor e plástico e, no transporte, a fricção entre as embalagens pode acumular energia.
Mesmo assim, como poderia ter gerado uma faísca se o caminhão estava parado?
Ao final, saímos da ocorrência com dúvidas e hipóteses, mas com o dever cumprido.
Neste tipo de ocorrência, a chance de tomar grandes proporções é alta, pois as carretas ficam muito próximas umas das outras.
O agente extintor a ser usado dependerá da carga no interior da carreta. Neste caso, usamos água para extinguir o fogo por resfriamento e abafamento e, posteriormente - com a ajuda dos funcionários da transportadora - retiramos a carga para se certificar que não havia mais fogo em seu interior.
Também não custa lembrar que é primordial usar EPI completo e EPR, pois os tipos de material usados na construção dos refrigeradores são bastante tóxicos quando submetidos a fogo e/ou altas temperaturas.
O combate é feito por fora e deve-se tomar muito cuidado ao abrir as portas, pois poderão ocorrer fenômenos como flashover e backdraft.
Pode-se adentrar à carreta para retirar a carga somente quando tiver certeza que o fogo foi extinto.
Até a próxima!